Do Meu Folhetim https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br Meias verdades sempre à meia luz Thu, 30 Sep 2021 12:29:11 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 A melhor estratégia https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2020/01/27/a-melhor-estrategia/ https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2020/01/27/a-melhor-estrategia/#respond Mon, 27 Jan 2020 19:59:41 +0000 https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/files/2020/01/damares-320x213.jpg https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/?p=613 Quando adiantou detalhes da política de educação sexual para adolescentes, pregando sua abstinência, o Ministério dos Direitos Humanos tinha ciência do vespeiro em que enfiava a língua. Ao lado de dezenas de colegas jornalistas, fiz parte do pelotão que fuzilou com argumentos, piadas e dados científicos a estratégia destinada ao fracasso. E quem sabe fosse justamente isso que Damares Alves queria, seguindo a máxima do falem mal, mas falem de mim.

Se estava realmente só de olho na fuzarca, excelente, temos enfim um ministério eficaz no governo. Mas, se a ideia era, a sério, provocar e convencer jovens a não transar até ter idade para a carteira de motorista, aí não havia plano mais furado – nenhuma careta de ministra jamais deu e jamais dará conta de acabar com a libido de meninas e meninos de 16 anos.

Agora, se o governo desejasse realmente investir na educação sexual dos adolescentes, haveria, além das conversas francas com professores e dos livros, uma alternativa eficaz e relativamente barata: jogar na cara a mais dura realidade que possa haver. O que, no caso de proteger de uma gravidez indesejada, significa expor a vida de uma mãe solo às meninas.

O feminismo evoluiu, verdade, e vimos lentamente abrindo os olhos para conceitos ancestrais que não nos são de mais qualquer serventia, mas a maternidade, infelizmente, ainda é um tópico dos mais romantizados, seja na adolescência ou na vida adulta das mulheres.

Paira muitas vezes, no fundo da mente de algumas de nós, a ideia de que ser mãe é algo mágico, e que, como repetem as tias e avós, uma criança é sempre uma bênção. Mentira.

Se, mesmo quando planejado, um filho pode bagunçar os planos de vida, o que dizer de uma gestação-surpresa, especialmente na juventude? E, pior, como fica se essa gestação acontece na juventude de uma garota que não vai receber qualquer apoio do companheiro que – é sempre bom lembrar – é tão responsável pela criança quanto ela?

O Ministério deveria nos levar, nós, as mães solo, às escolas de todo o país, e nos presentear com uma hora de palestra diante de salas de aula lotadas com garotas que ainda podem fazer boas escolhas. Nos sentaríamos de costas para a lousa, e provaríamos, por A mais B, que ficar sem sexo na juventude é realmente uma ideia ridícula, mas que sexo responsável é o que de mais acertado elas podem fazer na vida.

Falaríamos, claro, sobre a perda da liberdade e do sono intrínsecas à maternidade em qualquer idade, mas focaríamos principalmente na parte da batalha em que a vida de uma mãe solo pode se transformar para conseguir participação ativa, afetiva e financeira do pai da criança. Afinal, se marmanjos de 30 anos praticam o aborto masculino diariamente, por que meninos de 15 não o fariam?

Daríamos às alunas nossos próprios exemplos. Falaríamos de negligência, abandono, duelos jurídicos, desrespeito. E sobre como a justiça – aquela que muitos apreciam alardear ser sempre partidária da mulher – muito pouco nos protege ou auxilia, nos transformando em grandes guerreiras exaustas, quando tudo que a gente queria era dedicar nosso peito e energia ao amor pelos filhos e sua criação.

Com exemplos concretos, ministra, nós mudaríamos o futuro. Porque as meninas não têm que parar de ir para a cama – elas têm é que ser ensinadas a fazer isso direito.

 

 

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Pega no AI5 e balança https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2019/11/27/pega-no-ai5-e-balanca/ https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2019/11/27/pega-no-ai5-e-balanca/#respond Wed, 27 Nov 2019 17:03:23 +0000 https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/paulo-guedes-320x213.jpg https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/?p=580 Estava tudo bem enquanto a tara ainda era estapear a bunda, lamber o dedão do pé, arriscar umas cusparadas gentis ou mesmo o consagrado golden shower (mas só debaixo do chuveiro) – eu juro que não me importava. Adoro um fetiche. Fingir uns enredos, encenar mentirinhas. O problema é que agora ando com medo. E se algum parceiro quiser que eu engula o AI5?

A perversão generalizada está à espreita, e pode esbarrar na gente a qualquer momento. Você vai estar ali em um momento de intimidade, e de repente alguém vai sacar da cueca uma ameaça de reedição golpista, o ato rígido em mãos, chacoalhando o recurso diante dos nossos próprios olhos. “Segura”, o tarado manda.

O AI5 é o fetiche do momento. O ministro gosta, o presidente gosta, o filho do presidente também. E, como acontece com qualquer depravação, quando um maníaco bota pra fora, a maioria até sai correndo horrorizada, mas sempre sobra meia dúzia de safados que se escondem para espiar.

Freud explica que a fixação institucional tem origem na fase fálica, evidentemente, quando, entre os três e seis anos de idade, a criança concentra toda a libido em torno do seu AI5.

É flagrada vez ou outra esfregando-o no braço do sofá, cutucando-o com o dedinho, sem consciência alguma de deleite erótico, claro, mas curiosa pela sensação divertida que aquele gesto causa. Bulir com o AI5 dá prazer.

Por algum desvio no curso normal do desenvolvimento dos políticos pequeninos, algo sai errado e o garoto cresce desejando impor seu levante à força. A qualquer mínima oportunidade, abre a casaca e expõe, nu de qualquer bom senso, sua sugestão de motim (e aqui Freud acrescentaria uma nota sobre a relação inversa entre envergadura e ego).

E, em casos assim, quando, de tão minúscula, a ameaça mal para em pé, o constrangimento é mútuo. Acomete tanto aquele que se vê diante do AI5 alheio, quanto quem tenta decretar seu fetiche deliberadamente em cima dos outros.

O climão se instala, um desconhecido tosse para disfarçar, e todo mundo segue torcendo pra que ninguém mais tenha o desvario de sugerir uma asneira dessas.

Mas, mesmo sabendo que tem tipos de tara que não fazem bem, sei de muita gente não pretende abandonar tão cedo a compulsão, e aí é só questão de tempo até que ela roce desavergonhada na minha coxa.

O AI5 está tão na boca de todo mundo, que temo pelo momento em que ele virá parar na minha. Ou quando, em sua dureza intrínseca, surja para me dar pancadinhas na bochecha, nos peitos, na barriga, naquele clássico espetáculo de submissão à ordem debaixo de força. Já pensou? “Pega no meu AI5 e balança”. Credo.

Como precaução, se antes eu exigia apenas que os parceiros falassem português direito e usassem camisinha, agora passei a solicitar que eles assinem três vias de contrato assinalando de quais tipos de fetiche pretendem fazer uso durante a transa. A qualquer sinal de autoritarismo, o pretendente é deportado. Democracia não é bordel.

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Poema do amor voraz https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2019/04/22/poema-do-amor-voraz/ https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2019/04/22/poema-do-amor-voraz/#respond Mon, 22 Apr 2019 13:53:06 +0000 https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/milhases-320x213.jpeg https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/?p=389  

Os males do amor,

muitos e variados,

desde o tipo rejeitado até

o iludido,

encobrem aquele que, de todos,

é o mais doído –

porque à vítima impõe

da miséria a pungente angústia -,

ficando omitido,

até que, abatido

um novo amante, lembra-se,

a humanidade,

da força de tal moléstia.

 

Quando o sentir não basta

(ainda que farto)

porque no peito sobra espaço,

não chegam beijos

nem evidências,

não faz diferença

a constância.

Reluz só

a carência,

brilham os vãos, e grita

a fome:

é o amor voraz, quando o desejo

nunca chega, e faz querer

 

tatuar seu nome

do seu inteiro tirar um pedaço,

arrancar-te e mordiscar um dedo,

para, depois, dependurado,

exibi-lo numa corrente.

 

Esganado o peito em vazio frequente

sonhar em, com a língua,

te esfolar, inteiro,

e fazer da pele toda goma

de mascar.

 

Teu cheiro:

num frasco ao alcance

da mão, no bolso,

chuviscado no pulso, romance

em gotas de suor azedo.

 

O que te há de belo,

o que te sobra, impuro.

Não tem critério o amor voraz,

porque anseia seus excertos

duros

inseridos no meu contexto.

Será que é um filho

que, teu, cresça

me ocupando,

ou só mesmo

sua carne, inchada,

me recheando?

Engolir você: a meta.

 

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Chega de levar o aborto para o lado pessoal https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2018/08/06/chega-de-levar-o-aborto-para-o-lado-pessoal/ https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2018/08/06/chega-de-levar-o-aborto-para-o-lado-pessoal/#respond Mon, 06 Aug 2018 18:10:41 +0000 https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/15106089345a0a1026db35a_1510608934_3x2_md-320x213.jpg https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/?p=248 Tenho uma relação de intimidade com o aborto. Em mais de vinte anos de vida sexual ativa, engravidei duas vezes, tive um filho e perdi outro de maneira espontânea – não, nunca interrompi gravidez nenhuma. Nunca “tirei” um filho. E isso apenas porque não aconteceu de eu precisar, porque, fosse o caso, sendo a favor da legalização como sou, não teria qualquer constrangimento em recorrer à alternativa.

O aborto e eu somos vizinhos a partir do ponto em que eu escapei de um. Não sou mãe de aborto, sou filha. Inconveniente, porque comecei a me formar justamente quando se desfazia um casamento, mas também teimosa, porque me mantive firme e focada em encontrar um jeito de nascer. E, ainda que ninguém tenha tentado na prática me arrancar à força de dentro do útero, a polêmica ideia foi debatida entre as equipes rivais – agora, sabemos qual time venceu.

Questões como essa costumam render aos sobreviventes horas reclinados em divãs. Neles, fala-se sobre rejeição, baixa autoestima, medo da morte. Mas, sejamos adultos, sinceros e fortes: fala-se, também, sobre o quanto o fato de um casal (ou de apenas uma parte deles, como no meu caso) cogitar abortar um bebê não significa efetivamente uma negação àquele sujeito específico.

Quem considerou, um dia, pelo tempo que tenha sido, que eu não nascer seria a opção ideal, não desprezou a mim, e sim a uma situação que, ali, não lhe parecia ideal. E não é isso que fazemos todos os dias, ao longo de todas as nossas vidas? Tomar decisões com base em uma avaliação do cenário completo? Escolhas? Envolvendo outras pessoas, sentimentos, preferindo uns, prejudicando outros.

Houve, na minha vida, múltiplos momentos em que decidi que, fosse positivo o resultado do teste, eu interromperia aquela (ainda imaginária) gravidez. E, na grande maioria das vezes, excetuando, talvez, aquelas em que eu ainda era uma adolescente, a razão primeira de tal escolha seria o contexto. Eu sabia que não queria ter um filho de um parceiro drogado, ou quando estivesse desempregada, ou se desconhecesse o pai da criança – tantas variáveis, um único decreto.

Sendo eu uma mulher branca, instruída, de classe média, muito provavelmente sobreviveria ao procedimento ilegal, já que, de minha posição socialmente privilegiada, seria possível buscar ajuda com segurança. Meus pais, tivessem chegado a um consenso diferente do que permitiu meu nascimento, possivelmente também teriam saído vivos e livres, ambos, de dentro de um consultório furtivo no centro de São Paulo.

Ainda assim, eu luto pelo direito à escolha. Sou a favor, repito, da legalização do aborto, e pela garantia de que todas as mulheres, com ou sem a anuência dos parceiros, famílias, párocos do bairro, possam ser as únicas responsáveis por definir o que será de seu futuro.

Quero ter a opção que meus pais não tiveram, ainda que não fossem recorrer a ela. Quero a concessão que, até hoje, em agosto de 2018, ainda não me é concedida, ainda que dela eu não precise. E quero, sobretudo, que minhas descendentes saibam que são elas as únicas soberanas sobre seus corpos – e que todas nós que viemos antes fazemos parte desta conquista.

 

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Gol contra é tendência na Copa e na vida https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2018/06/21/gol-contra-e-tendencia-na-copa-e-na-vida/ https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2018/06/21/gol-contra-e-tendencia-na-copa-e-na-vida/#respond Thu, 21 Jun 2018 11:00:29 +0000 https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/polônia-320x213.jpg http://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/?p=202 “Não tem justificatiiiivaaaaa”, se esgoela, todo desalmado, o comentarista na TV. E isso que o único pecado do jogador era ter marcado um gol contra, coitado, imagina se ele fizesse algo muito horrível tipo escrotizar mulheres russas de maneira misógina e criminosa no meio da rua (ainda bem que na vida real ninguém ousa nada disso, ufa).

Acho cruel e injusto esse peso todo que se coloca sobre quem marca ponto sem querer nos próprios amiguinhos. São atletas que ganham milhões para jogar futebol? Sim. Que ocupam um lugar que todo mundo queria? Também. Mas, poxa, sejamos honestos, quem nunca cometeu um golaço contra si mesmo nessa dura dessa vida?

O gol contra nada mais é do que aquele momento em que você pensa “ok, eu sou mesmo um bosta, tomara que eu morra”, e isso seja qual for a circunstância do deslize. Ainda que não se trabalhe batendo bola, por exemplo, tem gol contra no escritório – existe humilhação maior que dar prejuízo à própria empresa ou ajudar um concorrente?

Tem gol contra na política, quando se cai no conto de que primeiro a gente tira uma e depois a gente tira o resto. Gol contra no amor, se o resultado do tão aguardado ménage é sua mulher apaixonada pela mina que você escolheu para transar – do cara com a taça na mão, você, passa, agora, para o divorciado vacilão.

Nada na vida é mais humano que o auto-gol. Somos todos o pobre curitibano-polonês enfiando devagarinho a bola no travessão do país que o acolheu como cidadão. Tamo junto, com as mãos na cabeça, #chateados, tomando do goleiro um tapinha de consolo na bunda.

Foi o quinto gol contra na Copa da Rússia. Estamos, com isso, à beira de bater o recorde da Copa da França, em 1998, quando seis jogadores presentearam suas seleções com uma bola inimiga. Finalizemos o campeonato com qualquer total, o importante é mantermos em mente o fato de que gol contra não é tendência apenas na Copa, mas, sim, uma moda para a vida. Uma prática involuntária, ok, mas algo a ser acolhido e superado. Um negócio que dá e que tem que passar, sem maiores encanações.

Ontem recebi um boy em casa. Não sei se rolou pé alto ou convulsão no vestiário, mas a questão é que, com 90 minutos de jogo, o sexo não saiu. Estava tudo bem, quando, de cueca nos joelhos e olhar cabisbaixo, ele admitiu, sim, o placar adverso, mas culpou a equipe toda pela própria broxada. Chutão para trás, bola entrando, e olha outro gol contra na Copa – e, nesse cenário arrogante, diz o Arnaldo, não há outra alternativa a não ser puxar o cartão.

 

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Sabe quem também gosta de transar? A sua mulher https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2018/05/18/sabe-quem-tambem-gosta-de-transar-a-sua-mulher/ https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2018/05/18/sabe-quem-tambem-gosta-de-transar-a-sua-mulher/#respond Fri, 18 May 2018 22:52:49 +0000 https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/sexo-320x213.jpg http://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/?p=176 Tá vendo essa pessoa aí do seu lado no sofá, de perna para o alto, meia grossa e cara de sono? Pois eu tenho uma revelação a te fazer: ela gosta bastante de transar. E não adianta vir com a conversa de que do seu marido ou da sua mulher quem sabe melhor é você, e que é óbvio que o Antônio Carlos ou a Neide já há anos que não tem libido, porque esta coluna, hoje, vem trazendo grandes verdades.

À parte a psicanálise, à qual sou bastante afeita, porém dela muitíssimo ignorante, é senso comum que, em relacionamentos longos, os parceiros se dessexualizem mutuamente, esquecendo que, dentro daquele pijama de flanela, bate um coração e latejam xoxotas e paus. É como se, ao olhar para o ser amado, só sobrasse a imagem que se tem dele no cenário da vida doméstica e da rotina da relação.

Desaprende-se, por exemplo, que aquela figura foi, um dia, a pessoa que trocava mensagens safadas de madrugada, produzia nudes de qualidade, e levava gente para a cama, tudo para ficar pelado e, feliz, apresentar o repertório ao respeitável público (do qual, leitorx, você também obviamente que fazia parte).

Eu realmente não sei por que motivo, além do evidente cotidiano matador, a gente faz isso com as relações. Por que diabos arrancamos do outro todo o caráter sexual que um dia tanto nos encantou. Talvez seja para sobreviver ao pânico irracional de perder quem tanto se ama, de modo que, fingindo cegueira, sublima-se todos os aspectos dele que poderiam ser interessantes aos possíveis rivais.

Aspectos, estes, que foram justamente o quê, no passado, nos atraiu a sair para beber com aquela criatura, der uns beijos nela, transar com ela três vezes, depois transar outras dez, depois comer uma pizza e ver cinco séries, tudo em uma linda escalada que culmina com o sofá de agora, perna para o alto, meia grossa, cara de sono.

É justamente por esquecer que a mulher ou o marido continuam gostando de flertar como antigamente – e que, como qualquer adulto saudável, gosta de se sentir desejado e suspira pela quase sempre utópica perspectiva de um dia poder transar com outra pessoa sem ser considerado um adúltero criminoso digno de pena de morte – que muita gente se surpreende ao entrar em contato com essa porção sexual do parceiro, seja ao flagrar um inocente momento de prazer solo, ou ao rever aquele ser erótico de volta à ativa após um rompimento.

Que legal seria se evocássemos com mais frequência esses seres transantes que tanto nos encantaram no passado, e a quem escolhemos para compartir a vida. Que mantivéssemos em mente o quanto eles são fascinantes, sensuais, libidinosos. E isso não só com o objetivo paulocoelhístico de valorizar e reconhecer o companheiro, mas, também, em benefício próprio. Afinal, ao lembrar que tesão antigo não arrefece, fica mais fácil distinguir a sedução (e a ereção) por baixo da calça de moletom.

 

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Xoxota é xoxota, virilha, não https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2018/05/04/xoxota-e-xoxota-virilha-nao/ https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2018/05/04/xoxota-e-xoxota-virilha-nao/#respond Fri, 04 May 2018 22:38:57 +0000 https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/xoxota-320x213.jpg http://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/?p=161 Dentro de um cubículo de depilação, coisas extraordinárias acontecem. É basicamente a porta de Nárnia do salão de beleza. Gosmas borbulham dentro de panelas mitológicas e quentes como o sol, à espera da próxima vítima peluda oriunda do mundo real. O tempo, igual no guarda-roupa do livro, também passa mais devagar – você precisa ver o tanto que leva da hora que uma perna é encerada até o tardio momento em que a depiladora puxa o emplastro, levando junto com seu salário & sua alma.

Passam-se os anos (com o perdão do semi-trocadilho), e eu não me acostumo com a naturalidade do mise-em-scène. Ainda me constrangem a nudez sem carinho, as posições muito ousadas, a prosa coloquial que disfarça não só o mal-estar da situação toda, mas também dissimula uma intimidade que não existe.

Afinal, o que sabe aquela mulher da minha vida? Além do pouco que revelo, e do tanto que meu corpo entrega, que relação temos nós, a depiladora e eu?

Ligia interrompe meu devaneio e pede para eu me virar. Pergunta, toda prática, se hoje vou querer fazer o ânus. É que Ligia sabe que cabelos crescem nos mais remotos rincões do corpo humano, e imagina que serei mais feliz se me livrar ao menos daqueles. Pois ok, Ligia, depile meu furico. E, se não é possível ser romântica, que ao menos seja rápida e discreta.

Não é possível que alguém se acostume a ver tanta gente arreganhada na maca, afastando com as mãos as bandas da bunda, fingindo extroversão. Não tem como um trabalho assim ficar mecânico, feito o do caixa de supermercado que passa mercadoria no leitor do código de barras. Aqui, amigos, não tem essa de lá vai mais um biscoito, macarrão, quilo de banana – podem passar 30 traseiros diários na vida de uma depiladora, que não é nessa vida que ela se habitua.

Fora o tanto que deve emputecer qualquer uma a necessidade de camuflar substantivo. Precisar falar em axila quando é hora de conversar sobre sovaco. Maquiar bigode com nome chique de buço. Chega de eufemismo com a depiladora. Basta. Lançada a campanha “Me chame pelo MEU nome”, vamos até para fazer um filme. Que voltem cus e as xoxotas, e tenham uma morte horrível todas as virilhas cavadas.

 

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Bruna Marquezine e a fantasia de mulher evoluída https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2018/02/14/bruna-marquezine-e-a-fantasia-de-mulher-evoluida/ https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2018/02/14/bruna-marquezine-e-a-fantasia-de-mulher-evoluida/#respond Wed, 14 Feb 2018 12:59:15 +0000 https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/bruna15182767825a7f10ae336e8_1518276782_3x2_xl-150x150.jpg http://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/?p=134 É o peito da Bruna Marquezine, é o decote da Cleo Pires, é a bunda da anônima que entra na padaria pra comprar água e voltar pra folia – passou o bloco da patrulha. Não sei no Facebook de vocês, mas, no meu, só tem puritano perfeito nesse Carnaval. Quer dizer, justiça seja feita: perfeito, não, só perfeita mesmo.

Porque parece que não ter silicone é caído. E que expor seu silicone também é errado. Calcinha muito pequena não pode, maiô socado também não. E nem pense em aparentar felicidade, principalmente se estiver seminua, porque pega mal e ofende as famílias. Senhor. E a gente achando que era só se vestir de índio e cigana que dava B.O nesse fevereiro de 2018.

E olha que, se fosse só homem dizendo que os peitinhos da Bruna estão fora do padrão ISO 9000 brasileiro de qualidade, eu não me espantaria – afinal, não é de hoje que a gente tem que portar o que mais agrada à freguesia, e não a nós mesmas. Mas o que pegou foi que, de 10 sommeliers de teta que passaram pela minha timeline (e pela sua, creio), 23 eram mulheres.

Gente, quem são vocês que replicam cobranças que nos vomitaram na cabeça pela vida toda? Por que fazer com as outras o que você odeia que te façam? Você não percebe, moça, que está sendo machista?

A colega se queixa de que estava na padaria com o marido, filho e sogro mandando ver num pão na chapa quando uma mulher contente posicionou sua meia bunda de fora na fila do caixa. Cadê as viaturas quando a gente mais precisa delas, bradava a mãe de Jesus no post em um grupo composto só de mulheres. Acode, Rota, pelo amor!

E a gente não pode nem reclamar dessas vagabundas (sic) em paz, clama a mulher que, ontem mesmo, estava lá compartilhando com a gente a foto dum cara equilibrando uma toalha no membro em riste (salvei aqui, se quiserem eu mando). A indignada original, que topou com a animada nádega na padaria, frisou, por fim, que, além de tudo, ainda tinha que lidar com o marido e o sogro ofendidos com a nudez alheia – porque se tem uma coisa que eles realmente devem ter ficado ao ver a foliã pelada foi chateados, aposto.

Amiga, não adianta camuflar sua insegurança debaixo de uma suposta moral rigorosa e depois vir esfregar no nariz da gente. Não cola. A tentativa de controlar o universo à sua volta – e a consequente decepção ao ver que isso é impossível – só te aprisiona e entristece. E se a gente te contar que é tão mais fácil se libertar e entrar no jogo?

Não quer arrancar fora a roupa, não arranca. Não quer dançar no bloco, não dança. Não gosta de peito e bunda de fora, não olha. Mas não nos venha com a sua honra tentar cercear a nossa autonomia. Que aí, perdoe, a vontade geral será rebolar definitivo todo o atrevimento de uma geração emancipada no cappuccino da sua família de bem.

Não aceitar o corpo da outra é sinal de que está difícil aceitar o seu. E isso, saiba, muito provavelmente nem é culpa sua, mas, sim, dos padrões nos quais somos todas obrigadas a nos encaixar desde pequenas. Vale, portanto, tentar identificar realmente o que te move ao malhar os seios alheios – ciúmes, inveja, baixa autoestima – e curar a ferida que há no seu próprio peito.

Faça as pazes com você mesma e experimente, então, olhar de novo para toda a ousadia do Carnaval. Garanto que nada cai melhor na gente do vestir com propriedade a fantasia de mulher evoluída.

 

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