Do Meu Folhetim https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br Meias verdades sempre à meia luz Thu, 30 Sep 2021 12:29:11 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Festival de DR 2020 https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2020/01/13/festival-de-dr-2020/ https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2020/01/13/festival-de-dr-2020/#respond Tue, 14 Jan 2020 02:21:03 +0000 https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/files/2020/01/bem-casado-320x213.jpeg https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/?p=602 Pelo telefone, gesticulando bastante enquanto anda pra lá e pra cá, o rapaz negocia com alguém do outro lado da linha a locação de uma casa via plataforma de hospedagem. Fala de detalhes como número de pessoas, data e horário, questiona se prestadores de serviço são aguardados, e menciona as palavras horripilantes: “troca de alianças”.

Ele larga o celular em cima da mesa, satisfeito, e explica que acaba de fechar negócio com um casal que alugou seu sítio por um dia. A quantia é boa. Farão, lá, a cerimônia que compreende entregar um para o outro um anel, e deve tudo acontecer diante de dezenas de convidados, fotógrafos, cinegrafistas. O que antes se chamava jantarzinho de noivado, agora ganha ares de espetáculo.

Sou a única por fora da nova onda. Em uma rápida busca na internet, entendo que se trata de importante tendência, isso de fazer uma festa gigante. Eu, que achava que, no tocante aos matrimônios, havia apenas uma celebração única, me dei conta da minha senioridade. Hoje, parece, in mesmo é comemorar loucamente cada minuto.

Tudo começa com um rendez-vous para pedir alguém em casamento. Lembra quando a ocasião se resumia a uma discreta ajoelhada em um lugar bonito, só nós dois, olha que anel chique eu trouxe nessa caixinha? Esquece.

Hoje é preciso fazer live no Instagram, depois postar stories, daí chamar alguém pra editar e botar música de fundo, e de preferência roteirizar de um jeito que aumente as chances de o pedido viralizar. Torcer pela resposta “aceito” é o de menos.

Chega, então, a tal troca de alianças, com sítio alugado e superprodução. Em seguida, pelo que pesquisei, vêm as provas do vestido, com champanhe e canapés, iates com roupões personalizados ou noitadas com moças de aluguel para dizer tchau ao antigo estado civil, o dia da noiva e do noivo, e, lá nas últimas páginas da agenda, a cerimônia de casamento em si.

De onde essas pessoas tiram tanto fôlego? Animados que são, não demora muito e a noiva engravida. Sempre achei que gestações se resumiam a duas pessoas transando e um bebê nascendo, mas não. Você não imagina o potencial que a junção de gametas tem.

Não há nada mais jacu hoje em dia, dizem, que esperar o nascimento da criança para descobrir seu sexo. Bacana mesmo é fazer um chá de revelação, com balões, bolos e pirotecnia no melhor esquema meninos vestem azul, meninas vestem rosa.

Mais tarde, um chá de bebê, para angariar alguns presentes, daí o fuzuê na maternidade, e então encontros mensais a fim de acender velinhas para a criança a cada 30 dias de vida alcançados. Parabéns, Enzo Gabriel, por ser essa dádiva incessante.

A necessidade de transformar tudo em espetáculo só evidencia a mediocridade da vida de aparências que a gente decidiu levar. Nela, se nada mais é especial, que se faça de tudo uma extravagância.

Rezo pelo dia em que o disparate chegue ao ponto de recebermos em casa os convites para o Sarau de Concepção, o Evento da Primeira Papinha Salgada, a Farra da Traição no Motel, o Festival de DR 2020, e, óbvio, a Solenidade de Divórcio no Cartório Central da Cidade. Com tanta festa boa de casal e neném para ir ao longo do ano, passou da hora de os velórios se reinventarem.

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Pegar mulher amadurece https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2019/10/28/pegar-mulher-amadurece/ https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2019/10/28/pegar-mulher-amadurece/#respond Tue, 29 Oct 2019 00:08:41 +0000 https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/ilustra-ana-matsusaki-320x213.jpeg https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/?p=544 Na palestra do psicólogo, o tema era como as famílias vêm terceirizando a educação dos filhos, impedindo sua autonomia, estimulando competições injustas e o consumismo desenfreado. Um baita trabalho porco, esse nosso, e eu me vi à beira de vestir a carapuça aos prantos quando o terapeuta, um homem na casa dos 40, deu como exemplo uma conversa hipotética entre um pai e um moleque adolescente: “Sou melhor que você, filho, que ainda nem pegou mulher na vida”.

Parece que o jogo virou, doutor. Eu, que estava quase topando rachar com a humanidade esta culpa pelo fracasso absoluto na criação de seres humanos, agora não só continuo me achando uma mãe excelente, como passei a duvidar da sua capacidade como analista, palestrante, humorista e adulto. Ou essa colocação aí não é coisa de moleque?

Na tentativa de fazer graça, diante de um público majoritariamente feminino, o psicólogo aponta relações sexuais como índice de medição do sucesso, e ainda escolhe um vocabulário tão ultrapassado quanto asqueroso. Meu filho de 11 anos não faria melhor.

Uma amiga compartilhou uma imagem que diz que a prova de que sexualidade não é escolha é que ainda gostamos de homens (e isso não tem relação alguma com nos acharmos superiores por qualquer motivo, se você ainda não entendeu o feminismo volte 30 textos no blog e muitas casas na vida).

Acho que essa sensação – genuína – vem do fato de que nós, mulheres, vimos nos esforçando tanto para evoluir, é yoga, é análise, é tantra, é mapa astral, é ciranda para a lua, Freud, Lacan, livros, é coração aberto, e do outro lado vemos tão pouco esforço em prol de entrar em reforma para melhor atender-nos. Desanima.

Assistir figuras escolhidas para compartilhar conhecimento optarem por se comportar de maneira imatura, ainda que em um lapso de segundo, faz pensar que talvez haja uma autorização silenciosa e coletiva para que homens sigam sendo meninos eternamente.

Isso sem falar nas instâncias superiores, ocupadas por indivíduos que parecem recém-egressos do Ensino Fundamental II. A já exaustivamente comentada República da Quinta Série. Óbvio que uma parcela considerável da população constata e se incomoda com a conduta pueril de quem foi escolhido para liderar as decisões máximas da nação, mas em muitos casos os que apontam o dedo se esquecem de seus telhados de vidro.

A prática comum de rotular companheiras como um empecilho à felicidade e à independência, por exemplo, uma receita clássica dos comerciais de menos de uma década atrás. É um costume malandro que não se dá nem ao trabalho de uma retrospectiva histórica. Afinal, se há um sexo que passou séculos sendo podado e diminuído, e que por isso teria direito a todo o ranço do mundo, este sexo definitivamente não é o masculino.

Escolher aquelas que são para casar e as que valem para trepar – e depois reclamar da própria escolha -, classificar-nos com base apenas na subjetiva qualidade dos nossos atributos físicos, alimentar uma rotina de flerte constante com futuras candidatas à vaga já preenchida em uma relação mutuamente acordada como monogâmica: são ou não são práticas idênticas à de, em 2019, falar que o filho ainda não cresceu simplesmente porque ainda não “pegou mulher”?

Ninguém cresceu, parece. E, deste modo, fica realmente difícil imaginar que as próximas gerações se apresentem melhoradas, tendo como exemplo adultos estacionados bem antes do colegial. O problema pode até ser as famílias terceirizando a educação, impedindo autonomia, estimulando competições injustas e o consumismo desenfreado, mas é importante que a gente fale sobre essa imaturidade masculina normatizada e tente de algum modo trabalhá-la.

Em uma sociedade em que um psicólogo propaga em público discursos machistas arcaicos, em que nossos parceiros nos enxergam como bruxas castradoras, e o presidente da República chama a filha de fraquejada para, depois, se fantasiar de imperador-mirim ameaçando levar a bola embora depois que suas regras egocêntricas não são seguidas, é preciso redobrar o foco e a ponderação. O preço da liberdade é mais do que nunca a eterna vigilância.

 

 

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Se eu não amasse ninguém https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2019/02/27/se-eu-nao-amasse-ninguem/ https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2019/02/27/se-eu-nao-amasse-ninguem/#respond Wed, 27 Feb 2019 21:30:31 +0000 https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/Andre-Ducci-320x213.jpg https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/?p=348 A marchinha de Carnaval, esta, a festa mais libertária do ano, garante que, ainda que todo mundo pense o contrário, legal mesmo durante a folia é estar apaixonado. Quem sabe sabe, conhece bem, e ai que delícia que é gostar de alguém e querer bem e ter um foco só nessa vida, amém.

Pois eu queria era pular em outro bloco. O Unidos do Não Gosto de Pessoa Nenhuma.

Óbvio que da minha mãe eu ainda gosto, do meu pai e do meu filho também, das amigas, dos colegas, e até o meu chefe no jornal eu curto, mas ia ser uma experiência e tanto viver um período curto que fosse sem estar apaixonada por ninguém. Não ter o coração absolutamente entretido e devotado a um grande amor. Com o sinal de livre, porém com zero pressa para aceitar uma nova corrida.

Se eu não gostasse de pessoa nenhuma, eu acordaria cedo como sempre acordo, ao som do despertador de todo dia, e ajustaria o soneca para tocar três vezes e eu então me levantar às sete e meia sem gostar de pessoa nenhuma. Faria o café forte com leite, cortaria o mamão ao meio, assaria três pães de queijo e comeria tudo com calma, porque eu não gostaria de pessoa nenhuma.

Trabalhar talvez fosse até mais fácil se eu não estivesse amando ninguém. Dirigir na Marginal, estacionar na Zona Azul, pedir pra botar trinta de gasolina, deixar aquela forcinha pra nóis, esterçar e vir vir vir vai ver seriam processos mais simples, quem sabe, se fosse o caso de não amar ninguém.

Sem um amor no peito eu iria ao mercado comprar sabão em pedra, banana prata, pedia peixe à milanesa, via peça no teatro, escovava os dentes e ouvia Djavan, tudo sem medo nem dor nem dúvida, porque, de peito vago, ficava tudo mais fácil, ficava leve ter faringite, perder cabelo, ler o Drummond inteiro, o Bandeira todo, a ata do condomínio, o manual da geladeira, o menu do Netflix, a resposta da charada de ponta-cabeça, a coluna do Antonio Prata e o olhar do namorado que não é ninguém e, por isso, não ganha amor, não sente pressão, não muda de ideia, não tem saudade nem sufocamento, simplesmente não o é de modo que não se tem.

Quando eu não gostar de pessoa nenhuma, vou aprender a tocar piano, dançar flamenco, nadar borboleta, virar estrela, usar furadeira, chorar desconto, dizer não quero, aceitar socorro e pedir distância, porque não existe desprezo quando não se tem expectativa e é assim que se move alguém que não gosta de pessoa nenhuma.

Pessoa nenhuma não, redigo, que a mãe e o pai, o filho, as amigas, os colegas e até o chefe no jornal a gente segue adorando. Era só que eu ia manter o coração ocioso, e guardar a calcinha nova, a unha feita e a reverência absoluta a quem mais merece o querer bem, o amor no peito e a escolha superlativa: eu mesma, e só mesmo eu.

* (Texto dedicado à Manu, aluna do meu curso de Redação, que tem boas ideias de temas e de quem é gostoso gostar)

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Se precisar de respeito, chame um homem de aluguel https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2018/08/17/se-precisar-de-respeito-chame-um-homem-de-aluguel/ https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2018/08/17/se-precisar-de-respeito-chame-um-homem-de-aluguel/#respond Fri, 17 Aug 2018 21:24:35 +0000 https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/marido-aluguel-320x213.jpg https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/?p=254 De tanto buscar quem montasse um guarda-roupas, quem pendurasse na parede um armário de cozinha, quem pregasse prateleiras, suportes de plantas, cortinas, o Google acabou resumindo em uma única proposta todas as sugestões que tinha para mim: por que é que eu não contratava, de uma vez por todas, um marido de aluguel?

Um homem poderoso, com uma furadeira potente, 25 brocas dos mais diversos tamanhos e ranhuras. Com sua maleta cheia de ferramentas, seus conhecimentos profundos nas áreas de elétrica, hidráulica, marcenaria, serralheria. Como não cair de tesões – e necessidades – por um homem deste calibre?

Acho que me lembro vagamente. Era 1950 quando ainda tínhamos bem definidos esses papéis na família. Os maridos operam máquinas, as mulheres conduzem vassouras. E olha que tinha cônjuge que nascia com zero de aptidão para consertar coisas, mas, ainda assim, era função dele dar um jeito na resistência do chuveiro. Problema seu, amigo, você era um ma-ri-do.

O ano agora já é de 2018-e-feminismo-bombando, e o sistema de busca propõe que um marido resolva todos os meus problemas. A ideia de um único profissional solucionar sozinho um conjunto de pepinos me parece ótima, mas marido mesmo, nessa vida, eu só chamo quando a ideia for alguém com quem ver Netflix, rachar as contas, fazer uns filhos. Não tem que casar para pendurar samambaia, nem tem que ser homem para manjar de chave-inglesa.

A dureza, no entanto, é que, ainda que tenhamos cada vez mais essa consciência, ainda há momentos de incoerência da nossa parte. Vamos admitir: tem vezes em que tudo que a gente mais quer é chamar um homem e pedir ajuda. E danem-se os parafusos e extensões – a gente inconscientemente cogita a presença de um cara em situações imensamente mais delicadas.

Sonho em ligar para o meu primo forte quando preciso fazer algo sozinha na rua à noite. É no meu ex-namorado tatuado e com cara de mau que eu penso quando sei que preciso negociar coisas com alguém truculento e abusivo. Se é preciso encarar um motorista de táxi ou aplicativo, imagino como seria fazer isso tendo ao meu lado meu pai ou um irmão.

Só nesta semana, por exemplo, aspirei ter um pinto no meio das pernas duas vezes, no dia em que o porteiro do prédio novo menosprezou minha capacidade de compreender o funcionamento da companhia de luz, e quando o eletricista apareceu em casa para um conserto e, alcoolizado em meio ao serviço, foi debochado e agressivo.

A verdade é que, aqui neste instante, macho nenhum vai respeitar mulher de graça. A regra geral é entender que são eles os donos da furadeira, e nós, aquelas que não sabem operar coisa nenhuma. Por isso, ainda vai ser preciso, infelizmente, vez ou outra, contratar o homem de aluguel não para instalar um lustre, mas para sanar contextos ameaçadores. Incomoda, a gente sabe, mas é o que vamos ter para hoje.

A igualdade, eu acho, pode não chegar nunca, como preveem alguns, por se tratar de uma utopia, mas nem por isso desisto de cobiçar a paridade de tratamento. Não precisar ter bolas para ganhar apreço. Enquanto isso, a gente segue, assim, chamando reforços sempre que preciso, e vai lutando para construir um mundo em que não precise mais ter medo de lidar com homem, e em que eles temam, de verdade, o insuportável hábito de levantar a voz para nós.

 

 

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Dia dos Namorados e o presente de um perfil sincero https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2018/06/12/dia-dos-namorados-e-o-presente-de-um-perfil-sincero/ https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2018/06/12/dia-dos-namorados-e-o-presente-de-um-perfil-sincero/#respond Tue, 12 Jun 2018 15:59:12 +0000 https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/orelhão-320x213.jpg http://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/?p=195 Vem ano e vai ano e ninguém toma a coragem de cancelar o Dia dos Namorados. Cadê o Temer quando a gente precisa? Por uma causa dessas os caminhoneiros não param?

É sempre a mesma ladainha. Quem tá em um relacionamento fica se esforçando para dar um presente bosta para a cara-metade, pagando perfume em crediário, chocolate superfaturado, bicho de pelúcia pra encher de poeira na cama, enquanto quem tá solteiro sofre, achando que tá perdendo grandes coisas por não receber um cartão virtual ou um textão com foto no Facebook.

Ninguém fica feliz, basicamente (tirando o dono da Giuliana Flores e do Motel Colonial Palace, mas, enfim, só eles mesmo). E vira meio Copa do Mundo, um grupo contra o outro no Facebook, ah, eu tenho alguém que me coma, segura essa relação estável, você tá aí sozinho, melhor mesmo é amor próprio, antes assim do que com namorada lixo. Preguiça.

A gente simplesmente não sabe se relacionar. Fim.

Quem sou eu na fila da Fluoxetina para falar de psicanálise, mas acredito que um dos grandes problemas dos namoros e casamentos está no fato de que a gente, na ânsia de agradar e ser amado, finge que é alguém diferente, enquanto o outro finge que é outrem, e ficamos os dois ali transando e tentando encontrar a felicidade – que, nesse formato, sorry to say, nunca vai chegar.

No mundo ideal, a gente se apresentaria aos crushes da forma que de fato é. Com os buracos, defeitos, desejos, taras estranhas. Manja anúncio de orelhão? Natália gostosa engole tudo etc? Ou perfil de aplicativo de relacionamento, quando todo mundo mete aquela foto naturalíssima e um resumo mentiroso do seu jeitinho estranho de ser? Imagina se fossem sincerões os perfis.

FABRÍCIO. Moreno, olhos claros. Me acho melhor na cama do que realmente sou. Te ignoro no dia seguinte e pergunto no chat quem é aquela sua amiga gata do Facebook.

JACQUELINE. Baixa autoestima, insegura, me apaixono por todo mundo com quem saio. Durmo com você hoje e amanhã já jogo seu nome no tarô online para saber se você me ama.

DÉBORA. Gata, bem-sucedida, tenho três prêmios internacionais e quatro apartamentos em Pinheiros. Pareço resolvida, mas, já no terceiro encontro, aproveito para fuçar seu celular enquanto você vai ao meu lavabo de mármore.

ANDRÉ. Levo você para comer sushi e conhecer minha mãe. Mês que vem te chamo de vaca.

LETÍCIA. Corpo violão, voz de soprano, preparo um risoto de comer de joelho. Do mesmo jeito que traí meu namorado para dar para você, vou te botar chifre quando pegar seu melhor amigo.

RENATO. Curto crossfit, te convido para treinar junto, vamos rachar um whey no parque. Mas só de segunda a quinta, porque de sexta a domingo eu fico com minha namorada oficial.

PEDRO. Alto. Executivo. Pago assinatura premium do xvideos.

Pois é isso, a vida, uma eterna busca por um match perfeito, ainda que a gente saiba que isso não existe. Um sofrimento para se encaixar nos padrões, para não ser diferente, sendo que todo mundo no mundo é diferente um do outro. Ah, o “serumano”.

De modo que, se posso dar um único conselho nesta terça-feira de sol é o de que todo mundo tenha um feliz Dia dos Namorados, seja solo, seja acompanhado, porque o que importa no 12 de junho (e no 13, e no 21 de agosto, no 9 de outubro, janeiro, fevereiro, 16 de abril, 14 de maio) é a gente gozar e ser feliz. A idealização do amor verdadeiro e eterno, ah, essa a gente resolve depois.

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Sabe quem também gosta de transar? A sua mulher https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2018/05/18/sabe-quem-tambem-gosta-de-transar-a-sua-mulher/ https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2018/05/18/sabe-quem-tambem-gosta-de-transar-a-sua-mulher/#respond Fri, 18 May 2018 22:52:49 +0000 https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/sexo-320x213.jpg http://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/?p=176 Tá vendo essa pessoa aí do seu lado no sofá, de perna para o alto, meia grossa e cara de sono? Pois eu tenho uma revelação a te fazer: ela gosta bastante de transar. E não adianta vir com a conversa de que do seu marido ou da sua mulher quem sabe melhor é você, e que é óbvio que o Antônio Carlos ou a Neide já há anos que não tem libido, porque esta coluna, hoje, vem trazendo grandes verdades.

À parte a psicanálise, à qual sou bastante afeita, porém dela muitíssimo ignorante, é senso comum que, em relacionamentos longos, os parceiros se dessexualizem mutuamente, esquecendo que, dentro daquele pijama de flanela, bate um coração e latejam xoxotas e paus. É como se, ao olhar para o ser amado, só sobrasse a imagem que se tem dele no cenário da vida doméstica e da rotina da relação.

Desaprende-se, por exemplo, que aquela figura foi, um dia, a pessoa que trocava mensagens safadas de madrugada, produzia nudes de qualidade, e levava gente para a cama, tudo para ficar pelado e, feliz, apresentar o repertório ao respeitável público (do qual, leitorx, você também obviamente que fazia parte).

Eu realmente não sei por que motivo, além do evidente cotidiano matador, a gente faz isso com as relações. Por que diabos arrancamos do outro todo o caráter sexual que um dia tanto nos encantou. Talvez seja para sobreviver ao pânico irracional de perder quem tanto se ama, de modo que, fingindo cegueira, sublima-se todos os aspectos dele que poderiam ser interessantes aos possíveis rivais.

Aspectos, estes, que foram justamente o quê, no passado, nos atraiu a sair para beber com aquela criatura, der uns beijos nela, transar com ela três vezes, depois transar outras dez, depois comer uma pizza e ver cinco séries, tudo em uma linda escalada que culmina com o sofá de agora, perna para o alto, meia grossa, cara de sono.

É justamente por esquecer que a mulher ou o marido continuam gostando de flertar como antigamente – e que, como qualquer adulto saudável, gosta de se sentir desejado e suspira pela quase sempre utópica perspectiva de um dia poder transar com outra pessoa sem ser considerado um adúltero criminoso digno de pena de morte – que muita gente se surpreende ao entrar em contato com essa porção sexual do parceiro, seja ao flagrar um inocente momento de prazer solo, ou ao rever aquele ser erótico de volta à ativa após um rompimento.

Que legal seria se evocássemos com mais frequência esses seres transantes que tanto nos encantaram no passado, e a quem escolhemos para compartir a vida. Que mantivéssemos em mente o quanto eles são fascinantes, sensuais, libidinosos. E isso não só com o objetivo paulocoelhístico de valorizar e reconhecer o companheiro, mas, também, em benefício próprio. Afinal, ao lembrar que tesão antigo não arrefece, fica mais fácil distinguir a sedução (e a ereção) por baixo da calça de moletom.

 

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Quem em sã consciência sonha em ser madrasta? Eu que não https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2017/12/18/quem-em-sa-consciencia-sonha-em-ser-madrasta-eu-que-nao/ https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2017/12/18/quem-em-sa-consciencia-sonha-em-ser-madrasta-eu-que-nao/#respond Mon, 18 Dec 2017 15:57:45 +0000 https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/madrasta-180x111.jpeg http://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/?p=125 Prazer, eu sou uma madrasta. Quando preenchi a vaga, não foi muito por escolha própria, mas, sim, porque se apaixonar por alguém que já tem filhos de relações anteriores exige que se assuma o emprego de maneira completa – não dá para namorar um cara que é pai e não se responsabilizar pela criança que vem junto.

Agora, o que dá para escolher é como se vai abraçar esta responsabilidade. Em resumo, você pode tentar ser legal, ou você pode ser uma completa escrota e virar um pesadelo eterno na vida do seu enteado ou enteada. É preciso admitir que, já de antemão, não somos lá a raça mais bem vista da sociedade. Se nas histórias infantis somos a escória da humanidade, na vida real algumas de nós também não colaboraram muito para melhorar nossa imagem.

Dê um Google em notícias usando apenas a palavra “madrasta”. Lá estará nossa classe torturando meninos e meninas, machucando, judiando física e psicologicamente, botando em prática com louvor o papel de vilã assassina que acompanha a alcunha desde que o mundo é mundo. Desta forma, quem em sã consciência deseja virar madrasta nessa vida? Eu que nunca quis.

Não fazia parte de nenhum sonho meu conviver e lidar com a criação de alguém e não poder questioná-la. Acrescentar ao calendário datas oficiais de convivência com a ex-mulher do homem que amo. Rezar para que todos, os seus os meus e os nossos, se respeitem e, que sorte seria, se gostem e curtam estar em sua companhia. Eu fui enteada a vida inteira, e soube sempre que não era amada verdadeiramente, pelo contrário – se havia um estorvo, aquela era eu. Já pensou se um dia mesmo que sem querer eu fizesse o mesmo com alguma criança no mundo? De modo que não seria muito mais fácil não ser madrasta, e ponto final?

Seria, se não houvesse um profundo carinho por aquelas duas (às vezes três, quatro, muitas) pessoas que entram na sua vida de repente, sem licitações ou formalidades. Vrá, e lá estão eles dormindo na sua casa, repartindo sua cama, comendo sua comida, tomando sua rotina, sentando no seu colo, olhando nos seus olhos e encharcando seu coração de um amor conquistado e precioso. Você se apaixona. Por ele, e por eles mais.

Com isso, aprende que ser madrasta é caminhar na linha da sutileza. É estar disponível sem jamais impor esta presença. É, por vezes, ficar invisível, e estar ok com isso. Aceitar o segundo plano como um lugar confortável, e nem por isso menos importante. É um exercício maravilhoso sobre a alternância muito louca entre nossa total insignificância no mundo e a profunda influência que podemos causar na vida de uma pessoa.

Ser madrasta é saber que sua atuação na vida daquela criança, ao contrário do que acontece com um pai ou uma mãe, tem a forte tendência a ser passageira, e que o desafio de fazer este período – seja ele curto ou duradouro – algo construtivo e memorável depende apenas do quanto você está aberta a se enxergar como ser humano, e disposta a se modificar no que for necessário.

Prazer, eu sou uma madrasta, e não há nada neste mundo que me faça evoluir e aprender mais sobre o amor do que ocupar este papel.

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Segredo do casamento é valorizar o outro em meio ao caos https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2017/10/04/segredo-do-casamento-e-valorizar-o-outro-em-meio-ao-caos/ https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/2017/10/04/segredo-do-casamento-e-valorizar-o-outro-em-meio-ao-caos/#respond Wed, 04 Oct 2017 18:19:26 +0000 https://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/files/2017/10/Fotolia_172714804_Subscription_Monthly_M-180x120.jpg http://domeufolhetim.blogfolha.uol.com.br/?p=62 Namoro é um negócio tão legal, mas tão legal, que a gente não tolera que algo tão legal esteja acontecendo com a nossa vida, e, então, a gente vai lá e destrói o namoro. E como é que a gente destrói o namoro? Transformando-o em casamento. E, na verdade nem precisa casar de verdade para destruir o namoro, envolver as famílias, a Justiça, Deus – não, só precisa mesmo é ir morar junto e dividir o mesmo espaço. A tal união das escovas de dentes tem poder explosivo igual ou maior que o da certidão lavrada em cartório.

A ver: agora a gente vai brigar não só por aquelas coisas todas que a gente já brigava. Agora, a gente vai brigar também por mais um montão de coisas novas, sendo algumas delas coisas que a gente nem sabia que existiam, que dirá que dava para brigar sobre. Mal posso esperar. Vai ter discussão por causa da louça suja. Da lista de mercado. Do rolo de papel higiênico para frente ou para trás.

A gente vai se controlar bem mais, também. Não só o controle daquelas coisas que todo casal tem ciúme, tipo saídas com os amigos com voltas no dia seguinte, ou o celular que não para de apitar com mensagens chegando em todos os aplicativos possíveis. Essas já são de praxe. Agora, a nova modalidade de ciúme vai ser sobre o tempo passado em frente à TV sem inclusão do parceiro. Ou mesmo o inédito controle sobre o tempo do banho ou do cocô alheios. Como se a TV, a privada ou o chuveiro fossem assustadoras ameaças à ordem e à felicidade de um relacionamento.

O problema maior do morar em uma mesma casa é que, com toda uma carta de assuntos para se bater boca novinha em folha à disposição, é uma tentação ao casal deixar de prestar atenção nas coisas divertidas. Se ficarem de muita picuinha, deixarão de ver que aqueles momentos pelos quais costumavam ter que esperar a semana inteirinha para acontecer agora estão ali, à disposição, para serem vividos todos os dias. Dividindo o mesmo teto, toda noite é noite de maratona Netflix. Qualquer hora é hora de campeonato de quem faz o outro ter mais orgasmos.

Ninguém está dizendo que vai ser fácil o tempo todo. Fora os desentendimentos, tem-se os outros pequenos ônus da convivência diária com um ser diferente (e talvez não tão evoluído quanto) de você. As escatologias, por exemplo. Quem já dormiu comigo, vestido ou pelado, sabe que sou uma pessoa que tem gases – e este é um assunto tabu em qualquer casamento, sejamos honestos. É praticamente o Voldemort da vida conjugal, aquele-de-quem-não-falamos-o-nome.

Tenho a sorte de que, desde que fui habitar o mesmo espaço que minha alma gêmea, vim parar em um bairro onde aviões passam voando muito baixo. O que, por um lado, atrapalha o sono de maneira impensável, por outro facilita o alívio e o desconforto intestinais de maneira praticamente incógnita. Aqui em Moema, a gente aproveita os pousos e as decolagens a cada três minutos para, sempre que se faz necessário, mixar o som de um pum com o do Airbus na janela. Só vi vantagens.

A perda de privacidade também pode ser outro ponto de tensão entre noivo e noiva, afinal, quem é que um dia sonhou com este momento, em que é preciso depender da agenda do outro para realizar tarefas tão mundanas quanto cortar as unhas do pé, escutar sertanejo ou mesmo se masturbar em frente ao computador? “Olha, amor, como eu sou legal, marquei para você esse curso de uma semana no interior, enquanto eu prometo ficar aqui morrendo de saudade”. Sorriso escroto, risada maligna.

Morar junto é tão desafiador que, ao invés de balde de gelo e abridor de vinho, as pessoas deveriam dar de presente ao novo casal alguns itens muito mais úteis no dia a dia, tipo: incentivo, serenidade, maturidade. Porque não há nada tão gostoso e trabalhoso ao mesmo tempo em todo o mundo. Por trás de uma fechadura em comum, é necessário expandir e estreitar o foco, simultaneamente – primeiro, para que a relação não se perca em discordâncias miúdas, e, segundo, para que não se mate o amor maior, perdido diante de um cotidiano tão vasto.

O segredo do casamento talvez esteja em valorizar tudo aquilo que no outro nos satisfaz, e que também nos enlouquece. Na alegria, na tristeza, no caos, no dia de faxina. É ir deitar, constantemente e lado a lado, e analisar as horas vividas como um bônus perto de quem deliberadamente escolhemos, sendo que havia tantas outras opções à disposição. É sentir-se, vez ou outra, apavorado, com profundo medo de perder aquela pessoa, porque não existiria, em todo mundo, ninguém com quem morar junto funcionaria tão bem.

 

 

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