Feliz Dia da Mãe Solo
Não é que ela fique melhor que ninguém, depois de anos e mais anos cuidando, ensinando, mostrando o que é o amor e o quanto são perigosas as tomadas, as janelas, o fogão, bota aí quase uma década apagando febres, beijando dodóis pra sarar mais rápido, chorando junto quando a dor é tanta que não há remédio que acalme, e, assim, mesmo com toda essa rotina, mesmo com tantos perrengues corriqueiros dessa fase da vida ainda outros tantos não programados, impensáveis, coisa de filme, ela ainda bancar isso tudo sozinha, solo, zero, sem backup nem dublê, sem folga, nada.
Eu dizia: não é que isso a transforme em ninguém melhor que ninguém – só a transforma mesmo numa mina foda. Bem foda. E devia ser tipo uma instituição, sabe, a mãe que cria filho na raça sozinha. Ter feriado nacional. Parada com desfile na avenida, promoção no shopping, feliz dia, a gente se desejaria, dava cartão, abraço, não sei.
Não pra gente, a data, sabe, mais pros outros, que muitas vezes se esquecem ou mesmo nunca souberam que – eu já falei isso? – essas minas são inacreditáveis. Pessoas de quem a força e o sangue nos olhos jamais deveriam ser postos em xeque. A menos que se queira ser devorado, atropelado, amassetado com garfo pra botar na papinha, engolido, palitado, marcado com ferro na testa pra ficar bem claro que, olha lá, aquele fulano duvidou da capacidade duma mãe sozinha. Rá. Não faz isso, amiga. Não manda dessas, cara.
Manja leão, rotweiller, aranha, aqueles bichos que vão sacar tua provocação bem quietos, fingindo anuência, pra, viradas tuas costas, te mostrar que aqui não tem palhaço? Pois essas minas são assim, só que sem juba, presa nem veneno. Somos assim, mas somos na sutileza. No contragolpe. Na elegância de quem já peitou coisa bem maior do que cara feia, ameaça, ofensa, terrorzinho. A gente já enfrentou o mundo, cara, e eu acho que não preciso nem te lembrar sobre quem venceu essa guerra.
Pois que fique instituído, assim, sem motivo para a escolha do dia específico, só mesmo a necessidade de nos louvar e destacar perante uma sociedade melhor que, bobear, somos nós mesmas quem estamos construindo: feliz sete de março, feliz Dia da Mãe Solo.