Ainda bem que existe o homem
Não vou nem mencionar a gentil doação de uma costela, sem a qual nem aqui estaríamos, mas o fato é que acho mais útil se nos fixarmos em cortesias mais recentes. Como quando, hoje mesmo, o taxista fez questão de elucidar todo o atual momento político nacional à passageira, que, por sua vez, explicava, ela mesma, a própria opinião ao chofer – se não fosse o prestativo motorista, imagine, a desafortunada mulher haveria de se contentar com suas ideias pessoais, intransferíveis, e, justamente por isso, certamente inadequadas, apenas pelo fato de que obviamente não foram elaboradas por um homem.
Aliás, ainda bem que existe o homem, hein.
Felizmente podemos contar, nós, mulheres, com tão fundamental amparo quando o assunto é ter assunto para conversar, por exemplo. É, de fato, uma sorte, essa nossa, a de ter sempre nos encobrindo a voz um colega que ensina a todas as moças o ponto de vista correto sobre qualquer tópico, e não aquele que pensamos – que tonta, a gente, pensar! – ser o mais adequado.
Eles nos ajudam mudando o rumo de um bate-papo informal com os amigos, da nossa disciplina aos filhos, e até mesmo exibem infinitos dotes circenses ao desempenhar o surpreendente número do malabarismo de apropriação da ideia alheia, só para vendê-las aos chefes com sua importante assinatura.
Ufa, se não é um alívio ter os homens!
Sem eles, não saberíamos como cozinhar melhor. Como dirigir melhor. Como trabalhar melhor, casar melhor, faxinar melhor, transar melhor, estudar melhor, patinar melhor, beber melhor, parir melhor, apontar lápis melhor, bolar senha do banco melhor, chamar o elevador melhor, fazer pedido no restaurante melhor, escolher lugar na sessão de cinema melhor, pesquisar preço de passagem barata de avião no aplicativo do celular melhor, trocar a água da vasilha e botar mais ração no pote de cerâmica dos cachorros todo dia pela manhã melhor.
Graças a eles, conseguimos contato diário com o que há de mais moderno e perfeito em termos de, como dizer?, TUDO. Louvados sejam.
Sorte a nossa que eles estão aqui, os homens.
Ou nem este texto, veja só, existiria, já que não haveria meu marido (homem) em casa para corrigi-lo, meu pai (homem) para esculhambá-lo, meus patrões (homens) no jornal para modificá-lo, meus leitores (homens) na internet para compartilhá-lo.
A vocês, soberanos, deixo meu profundo agradecimento. Nunca, por favor, nos abandonem.