Sabe quem também gosta de transar? A sua mulher

Marcella Franco

Tá vendo essa pessoa aí do seu lado no sofá, de perna para o alto, meia grossa e cara de sono? Pois eu tenho uma revelação a te fazer: ela gosta bastante de transar. E não adianta vir com a conversa de que do seu marido ou da sua mulher quem sabe melhor é você, e que é óbvio que o Antônio Carlos ou a Neide já há anos que não tem libido, porque esta coluna, hoje, vem trazendo grandes verdades.

À parte a psicanálise, à qual sou bastante afeita, porém dela muitíssimo ignorante, é senso comum que, em relacionamentos longos, os parceiros se dessexualizem mutuamente, esquecendo que, dentro daquele pijama de flanela, bate um coração e latejam xoxotas e paus. É como se, ao olhar para o ser amado, só sobrasse a imagem que se tem dele no cenário da vida doméstica e da rotina da relação.

Desaprende-se, por exemplo, que aquela figura foi, um dia, a pessoa que trocava mensagens safadas de madrugada, produzia nudes de qualidade, e levava gente para a cama, tudo para ficar pelado e, feliz, apresentar o repertório ao respeitável público (do qual, leitorx, você também obviamente que fazia parte).

Eu realmente não sei por que motivo, além do evidente cotidiano matador, a gente faz isso com as relações. Por que diabos arrancamos do outro todo o caráter sexual que um dia tanto nos encantou. Talvez seja para sobreviver ao pânico irracional de perder quem tanto se ama, de modo que, fingindo cegueira, sublima-se todos os aspectos dele que poderiam ser interessantes aos possíveis rivais.

Aspectos, estes, que foram justamente o quê, no passado, nos atraiu a sair para beber com aquela criatura, der uns beijos nela, transar com ela três vezes, depois transar outras dez, depois comer uma pizza e ver cinco séries, tudo em uma linda escalada que culmina com o sofá de agora, perna para o alto, meia grossa, cara de sono.

É justamente por esquecer que a mulher ou o marido continuam gostando de flertar como antigamente – e que, como qualquer adulto saudável, gosta de se sentir desejado e suspira pela quase sempre utópica perspectiva de um dia poder transar com outra pessoa sem ser considerado um adúltero criminoso digno de pena de morte – que muita gente se surpreende ao entrar em contato com essa porção sexual do parceiro, seja ao flagrar um inocente momento de prazer solo, ou ao rever aquele ser erótico de volta à ativa após um rompimento.

Que legal seria se evocássemos com mais frequência esses seres transantes que tanto nos encantaram no passado, e a quem escolhemos para compartir a vida. Que mantivéssemos em mente o quanto eles são fascinantes, sensuais, libidinosos. E isso não só com o objetivo paulocoelhístico de valorizar e reconhecer o companheiro, mas, também, em benefício próprio. Afinal, ao lembrar que tesão antigo não arrefece, fica mais fácil distinguir a sedução (e a ereção) por baixo da calça de moletom.