Descubra como fugir da crise durante o feriado

Marcella Franco

Acabou gasolina, álcool, diesel, acabou batata, professor na escola, ônibus na rua, acabou o leite, a ração pra galinha, mas, olha, se tem uma coisa que não vai faltar, essa coisa se chama merda. País rico, esse, em que não importa o que aconteça, seja na bonança, seja na crise, vai estar tendo merda pra todo mundo. Oba.

E, nessa escassez toda, óbvio que você não vai mais a lugar nenhum nesse feriado. Cancela a viagem, pede reembolso da pousada no Peixe Urbano. Eu sei que a expectativa era grande, quatro dias de pura folia, mas, se não tem como chegar na esquina, como é que vai fazer pra subir pra Campos ou descer pra Peruíbe?

O jeito é ficar em casa – o que não é nenhuma tragédia. Vai dar para zerar aquele cesto de roupa suja, por exemplo, lavando inclusive as meias sem par que você está fingindo que não vê desde o final de fevereiro.

Fora que tem bastante tempo, de quinta a domingo, então mete tudo no ciclo mais longo, pega pipoca com cerveja e assiste cada etapa pelo visor, aprecia essa dádiva que é “o agora”. Budismo zen patrocínio Brastemp. Olha lá o molho. Agitação. Molho de novo. Que belo enxague. Agora centrifuga. Isso.

Por falar em beber álcool, é importante lembrar que você não é o único bêbado do mundo. Sendo assim, na hora de comprar os engradados do feriado, nada de cair na tentação de estocar bebida. Não seja essa pessoa. Seja, sei lá, o hipster paulista que vê na crise uma oportunidade, e começa a fabricar sua própria cerveja gourmet de fermentação natural com lascas de cacau e aroma de tamarindo. Vai que.

Sem combustível também não vai rolar delivery. Esquece a pizza e o iFood, levanta a bunda do sofá, e vai lá fazer o seu próprio almoço – não precisa de gasolina para chegar até a cozinha. O quê, você quer dizer que acabou tudo das prateleiras aí do mercado do bairro? Então jejua, que Deus aprova.

Na TV, o repórter avisa que milhões de suínos e aves vão morrer se não chegar logo a comida deles. No Facebook, meu amigo responde: “e se chegar também vão, né?”. Por isso, aproveite também a crise para cortar de vez a hipocrisia da sua vida e 1) desligar a TV e continuar cagando para a vida dos bichinhos, até porque bacon é uma delícia mesmo, ou 2) virar de vez vegetariano e abandonar de lado a empatia cenográfica.

Aliás, falando em empatia de mentira, tira a mão desses 25 litros de leite AGORA, que a gente tá ligado que você não é um bezerro e que estocar alimento só vai ser moralmente aceitável quando o Bonner anunciar o apocalipse zumbi. Até lá, amigo, vai comprando de pouquinho, que assim sobra para todo mundo.

Remédio, por exemplo, só pode estocar no feriado se for Engov, Dorflex e Luftal, porque ócio causa mesmo ressaca, dor de cabeça e gases. De resto, amizade, qual o sentido de empilhar anti-inflamatório na despensa? Spray nasal? Modess?

Aproveita esses dias todos para colar bastante figurinha no álbum da Copa. Cola devagarinho, cola gostoso. Faz maratona de série. Escreve um romance, planta uma árvore, faz um filho – aliás, fica aí o recado de que transar é uma boa pedida, especialmente quando faz cinco meses que sua mulher não vê a cor dos seus pentelhos. Transa devagarinho, transa gostoso.

E caminha, né. Sai de casa. Respira o ar puro da rua com zero carros, atravessa sem olhar para os lados, dá mortal na faixa de pedestre. Vai andando até o parque, estende uma canga, toca Legião no violão. Organiza piquenique (não tem comida, ok, me esqueci, me desculpa, então meninos levam o Engov estocado, meninas levam água). Visita sua mãe em Goiânia, saindo na quinta chega de boa no domingo. Curte a rotina nova, e aproveita enquanto a merda não está faltando porque, na hora que ela acabar, aí, meu amigo, aí é que estamos mesmo todos fodidos.