Dia dos Namorados e o presente de um perfil sincero
Vem ano e vai ano e ninguém toma a coragem de cancelar o Dia dos Namorados. Cadê o Temer quando a gente precisa? Por uma causa dessas os caminhoneiros não param?
É sempre a mesma ladainha. Quem tá em um relacionamento fica se esforçando para dar um presente bosta para a cara-metade, pagando perfume em crediário, chocolate superfaturado, bicho de pelúcia pra encher de poeira na cama, enquanto quem tá solteiro sofre, achando que tá perdendo grandes coisas por não receber um cartão virtual ou um textão com foto no Facebook.
Ninguém fica feliz, basicamente (tirando o dono da Giuliana Flores e do Motel Colonial Palace, mas, enfim, só eles mesmo). E vira meio Copa do Mundo, um grupo contra o outro no Facebook, ah, eu tenho alguém que me coma, segura essa relação estável, você tá aí sozinho, melhor mesmo é amor próprio, antes assim do que com namorada lixo. Preguiça.
A gente simplesmente não sabe se relacionar. Fim.
Quem sou eu na fila da Fluoxetina para falar de psicanálise, mas acredito que um dos grandes problemas dos namoros e casamentos está no fato de que a gente, na ânsia de agradar e ser amado, finge que é alguém diferente, enquanto o outro finge que é outrem, e ficamos os dois ali transando e tentando encontrar a felicidade – que, nesse formato, sorry to say, nunca vai chegar.
No mundo ideal, a gente se apresentaria aos crushes da forma que de fato é. Com os buracos, defeitos, desejos, taras estranhas. Manja anúncio de orelhão? Natália gostosa engole tudo etc? Ou perfil de aplicativo de relacionamento, quando todo mundo mete aquela foto naturalíssima e um resumo mentiroso do seu jeitinho estranho de ser? Imagina se fossem sincerões os perfis.
FABRÍCIO. Moreno, olhos claros. Me acho melhor na cama do que realmente sou. Te ignoro no dia seguinte e pergunto no chat quem é aquela sua amiga gata do Facebook.
JACQUELINE. Baixa autoestima, insegura, me apaixono por todo mundo com quem saio. Durmo com você hoje e amanhã já jogo seu nome no tarô online para saber se você me ama.
DÉBORA. Gata, bem-sucedida, tenho três prêmios internacionais e quatro apartamentos em Pinheiros. Pareço resolvida, mas, já no terceiro encontro, aproveito para fuçar seu celular enquanto você vai ao meu lavabo de mármore.
ANDRÉ. Levo você para comer sushi e conhecer minha mãe. Mês que vem te chamo de vaca.
LETÍCIA. Corpo violão, voz de soprano, preparo um risoto de comer de joelho. Do mesmo jeito que traí meu namorado para dar para você, vou te botar chifre quando pegar seu melhor amigo.
RENATO. Curto crossfit, te convido para treinar junto, vamos rachar um whey no parque. Mas só de segunda a quinta, porque de sexta a domingo eu fico com minha namorada oficial.
PEDRO. Alto. Executivo. Pago assinatura premium do xvideos.
Pois é isso, a vida, uma eterna busca por um match perfeito, ainda que a gente saiba que isso não existe. Um sofrimento para se encaixar nos padrões, para não ser diferente, sendo que todo mundo no mundo é diferente um do outro. Ah, o “serumano”.
De modo que, se posso dar um único conselho nesta terça-feira de sol é o de que todo mundo tenha um feliz Dia dos Namorados, seja solo, seja acompanhado, porque o que importa no 12 de junho (e no 13, e no 21 de agosto, no 9 de outubro, janeiro, fevereiro, 16 de abril, 14 de maio) é a gente gozar e ser feliz. A idealização do amor verdadeiro e eterno, ah, essa a gente resolve depois.
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