Se organizar direitinho, todo mundo torce

Marcella Franco

Então vai ter Copa, sim, vai ter Neymar, vai ter força, foco e fé, e a única coisa que não vai ter mesmo é aula na escola das crianças. Obrigada, Brasil, por arruinar minha agenda. Daí fica aquele papo de que mulher não gosta de futebol, e, pelo contrário, a gente adora, o problema é que, quando a gente vira mãe, passa a detestar todo e qualquer evento que faça os filhos ficarem em casa. Eu amo meus meninos – eles lá na sala de aula, eu aqui no meu cantinho.

Veio bilhete na agenda avisando que “estaremos todos da equipe muito envolvidos em torcer pela Seleção”. Ah, tá. A professora, se é feita de carne e osso e não de giz de cera, vai estar é bem envolvida com a cama quentinha dela, enquanto o prô de Educação Física vai estar no comando do churrasco e, não duvido nada, a madre superior do colégio estará é envolvida com um litrão de Skol vendo TV no pátio atrás da capela. Eu, no lugar deles, estaria.

E nós, mães de aluno, com quem é nosso fechamento? É com o RH da firma, para quem é preciso avisar que, veja bem, não vai ser possível vir trabalhar nestes dias. Implorar, ajoelhadas de terninho, que se abra uma exceção e topem o home office, porque, veja bem, as crianças não têm com quem ficar.

Daí dá-lhe esquema de guerra dentro de casa. Porque o jogo, amigos da Rede Globo, não dura o dia inteiro, e 90 minutos são quase nada perto das 15 horas que uma criança passa acordada – o que é que eu vou fazer para entreter todo mundo nas 13 e meia que sobram?

Se eles levam um minuto para abrir um pacotinho, mais um minuto para achar a página, e outro minuto para colar uma figurinha no álbum, basta, então, que eu compre 270 novos cromos para que os 810 minutos restantes, além da partida, sejam preenchidos. Isso me faria R$ 108 mais pobre, mas talvez valha o investimento.

Posso, também, brindar com suco de maracujá cada gol no adversário, e rezar para que o efeito natural do tranquilizante promova um cochilo de sete horas de duração. Vocês conseguem ficar quietinhos enquanto a mamãe entrega o relatório? Fazer macumba pela eliminação nas oitavas é muito vacilo?

De olho na tabela, vejo que, amém, o primeiro jogo cai no domingo, só depois que rolam uma sexta e uma quarta. Ok, nos acalmemos, algum jeito deve haver. E, se for o caso, bora ser demitida e vender vuvuzela na praia. A Copa do Mundo vale a pena, a maternidade, mais ainda. Negócio é se programar e correr para o abraço, botando fé que, se organizar direitinho, acaba que todo mundo torce.