Gol contra é tendência na Copa e na vida

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Marcella Franco

“Não tem justificatiiiivaaaaa”, se esgoela, todo desalmado, o comentarista na TV. E isso que o único pecado do jogador era ter marcado um gol contra, coitado, imagina se ele fizesse algo muito horrível tipo escrotizar mulheres russas de maneira misógina e criminosa no meio da rua (ainda bem que na vida real ninguém ousa nada disso, ufa).

Acho cruel e injusto esse peso todo que se coloca sobre quem marca ponto sem querer nos próprios amiguinhos. São atletas que ganham milhões para jogar futebol? Sim. Que ocupam um lugar que todo mundo queria? Também. Mas, poxa, sejamos honestos, quem nunca cometeu um golaço contra si mesmo nessa dura dessa vida?

O gol contra nada mais é do que aquele momento em que você pensa “ok, eu sou mesmo um bosta, tomara que eu morra”, e isso seja qual for a circunstância do deslize. Ainda que não se trabalhe batendo bola, por exemplo, tem gol contra no escritório – existe humilhação maior que dar prejuízo à própria empresa ou ajudar um concorrente?

Tem gol contra na política, quando se cai no conto de que primeiro a gente tira uma e depois a gente tira o resto. Gol contra no amor, se o resultado do tão aguardado ménage é sua mulher apaixonada pela mina que você escolheu para transar – do cara com a taça na mão, você, passa, agora, para o divorciado vacilão.

Nada na vida é mais humano que o auto-gol. Somos todos o pobre curitibano-polonês enfiando devagarinho a bola no travessão do país que o acolheu como cidadão. Tamo junto, com as mãos na cabeça, #chateados, tomando do goleiro um tapinha de consolo na bunda.

Foi o quinto gol contra na Copa da Rússia. Estamos, com isso, à beira de bater o recorde da Copa da França, em 1998, quando seis jogadores presentearam suas seleções com uma bola inimiga. Finalizemos o campeonato com qualquer total, o importante é mantermos em mente o fato de que gol contra não é tendência apenas na Copa, mas, sim, uma moda para a vida. Uma prática involuntária, ok, mas algo a ser acolhido e superado. Um negócio que dá e que tem que passar, sem maiores encanações.

Ontem recebi um boy em casa. Não sei se rolou pé alto ou convulsão no vestiário, mas a questão é que, com 90 minutos de jogo, o sexo não saiu. Estava tudo bem, quando, de cueca nos joelhos e olhar cabisbaixo, ele admitiu, sim, o placar adverso, mas culpou a equipe toda pela própria broxada. Chutão para trás, bola entrando, e olha outro gol contra na Copa – e, nesse cenário arrogante, diz o Arnaldo, não há outra alternativa a não ser puxar o cartão.