Uma Copa beeeeem menininha

Se futebol era coisa só de homem – nunca foi, mas vamos fingir que sim para agradar ao leitor mais apegado –, a Copa do Mundo 2018 inaugurou uma nova era. Fomos tiradas do lugar clássico desde Garrincha em campo, quando servíamos para os comentários fúteis sobre a beleza das seleções, e ainda ocupávamos a posição das tolas que se atrapalham com os manuais do esporte.

Ainda podemos fazer tudo isso, na verdade. A diferença, aqui, no entanto, é que só seremos isso se quisermos. Agora, nos foi autorizada a convivência na sala dos poderosos fumando charuto, e só volta ao salão de costura e fofoca quem estiver com vontade.

Espaços se abrem – devagar, mas abrem. Já celebramos em uma série de matérias, por exemplo, a ida de três narradoras da Fox à Rússia, incluindo uma mineira de apenas 20 anos, Isabelly Morais (vamos usar negrito, sim, Manual da Folha, porque é preciso frisar momentos como este).

A BBC, por sua vez, deu na mão de Vicki Sparks o microfone principal de Portugal e Marrocos, fazendo dela a primeira mulher a narrar um jogo de Copa na TV britânica. Na Globo, Fernanda Gentil arrasa a ponto de lançar bordões, enquanto Júlia Guimarães nos ensina a fugir de assediador com golpes de Matrix.

Temos, na Folha, Ana Estela, Giuliana, Lulie, Michele, Milly, Vera, e eu, que vou continuar sentada com meu charuto, beeem menininha, falando de feminismo na Copa. Chora, opressor. E, se estamos aqui de favor ou bom grado, honestamente, caguei, porque me importa o debate sobre o que faremos daqui em diante.

O caderno especial da Copa, por exemplo, obviamente acaba quando o vencedor pegar a taça. A princípio, seria também hora de retornarmos a nossos postos originais, mas acha mesmo que vamos deixar passar a chance? No futebol e na vida, não adianta jogar bem e não marcar, ser favorito e voltar para casa.

Então, vai ter cada vez mais mina narrando jogo do Campeonato Paulista. Assinando primeira página no jornal. Vai ter Ana Maria Braga parando tudo para transmitir copa feminina em 2019. Vai ter camisa da Marta no camelô.

Porque não somos apenas bucetas rosas (e beges, pretas, vermelhas) coabitando o mundo. Somos nossos sexos, sim, mas somos bem mais que só eles. Somos e seremos atletas, jornalistas, pilotos, presidentas, o Batman. Quem quisermos, onde sonharmos. Nossa jornada, minas, está apenas começando.