Qual o segredo do fracasso inglês?

De Winkleigh, Inglaterra

E a Inglaterra quase avançou. Caiu diante da Croácia, à beira de pegar a França em uma disputa de final como não acontecia – nem vai acontecer – desde 1966. Jogou melhor, sem dúvida, ainda que seu futebol não tenha sido dos mais chamativos. Mesmo assim, a sensação que fica é de que nada serviria para impulsionar o patriotismo discreto da torcida britânica fora de campo.

E não estamos falando do povo entusiasmado nas arquibancadas russas, mas, sim, daqueles torcedores que ficaram em casa bebendo chá. Calhou de eu me encontrar na Inglaterra, aqui, junto com eles, durante esta edição da Copa do Mundo, de modo que estávamos, eu e Beth Rainha Mãe, tentando mandar good vibes para a seleção – mas, olha, foi difícil.

Os ingleses são tão contidos em seu otimismo que nem o bom desempenho de Kane e companhia teve, por exemplo, o poder de mudar o rumo do noticiário local. Em Cornwall, no sul, os grandes destaques no rádio durante o início de julho davam conta, sim, das vitórias britânicas, mas com o mesmo entusiasmo com que falavam dos cachorros locais sofrendo com a onda de calor e do resgate na Tailândia.

Na quarta-feira (11), noite da semifinal contra a Croácia, embora as imagens transmitidas pela BBC mostrassem animadas aglomerações em grandes centros como Londres, Manchester e Brighton, na grande maioria do país o clima era o da baixa autoestima típica inglesa.

Enquanto metade da população de 800 habitantes do vilarejo de Winkleigh, a sudoeste do país, passeava por uma exibição de carros antigos na rua central, a outra metade se amontoou em um dos dois únicos pubs com transmissão disponível. E, ainda que o primeiro tempo tenha sido de palmas e alvoroço, o gol do adversário trouxe o ceticismo de volta à tona.

Fica a pergunta: qual o segredo do fracasso inglês? A seleção sempre perde porque ninguém acredita na vitória, ou ninguém acredita na vitória porque a seleção sempre perde? Será que, internamente, os príncipes William e Harry, Dua Lipa e Robbie Williams, e todas as outras celebridades que apareceram antes da partida para dar apoio também não confiavam de verdade no sucesso?

A noite – e a Copa – acabam com quebra-quebra na capital, e zero vuvuzelas ou fogos de artifício no interior. A vida volta ao normal mais rápido e mais fácil para aqueles que não criam muita expectativa, dizem. Que imensa pena. “It was comming home”.