Meu primeiro topless
Se é desperdício ir a Roma e não ver o papa, sempre achei que também não fazia sentido algum ir à Europa e não mostrar as tetas. E, por mais que já tivesse botado os pés em alguns países onde o topless é permitido, as ocasiões nunca se fizeram propícias a expor os peitos livremente, por motivos diversos desde a geografia local até a época do ano escolhida para a viagem. Pois agora, aos 38 anos de idade, um filho e zero silicone, a chance perfeita surgiu – era now, ou era never.
Caso alguém me contasse que o ponto prestigiado com a primeira visão dos meus seios nus em público seria uma praia na Inglaterra, eu acharia a piada hilária. Afinal, a ideia que se tem aqui no Brasil sobre o verão no Reino Unido até pode envolver sol e calor, mas quem haveria de imaginar que há, sim, verão na terra da rainha, e que ele pode, também, derreter os miolos (e mamilos) dos seres humanos? Eu que não.
Pois foi nas areias de Rinsey, no sul inglês, que arranquei meu top do biquíni pela primeira vez. Encorajada metade pela temperatura de aparentes 200oC (o termômetro mentia singelos 36oC), metade pelo grupo de alemãs que já caprichava por ali na calcinha-peça-única, experimentei a sensação do meu primeiro topless.
Enquanto as outras minas, de tão naturais e seguras, claramente tinham nascido daquele jeito, eu, ao que tudo indicava, havia nascido vestindo meu primeiro sutiã. Elas corriam pela areia, eu pressentia a morte e a humilhação. Criada em família religiosa, com cicatrizes de uma redução de mamas feita há mais de 20 anos, fui educada a ter vergonha do meu corpo e dos meus supostos defeitos.
E, enquanto respirava fundo mentalizando meu lugar seguro, as alemãs entravam no mar gelado, conversavam, tomavam cerveja, e tudo de peito de fora – igualzinho fazem os homens todos os dias em praias do mundo inteiro e ninguém nem nota ou reclama.
Quando finalmente tomei coragem de libertar as tetas, eu estava sozinha, suada, e quase confiante. Meus amigos tinham todos ido mergulhar das pedras, o que me fez pensar que, para um debut, o exílio até que poderia ser interessante. Um nó desfeito, agora outro, e lá estavam eles, os seios, encarando a sociedade pela primeira vez.
A sensação inicial é a de que está todo mundo examinando fixamente todos os seus detalhes mais íntimos, mas, tenha sido por desinteresse ou civilidade – oremos pela segunda opção em benefício meu e da humanidade como um todo -, digo que foram poucos os que deram uma checada nas minhas garotas (sim, são meninas, minhas mamas).
O calorzinho nos mamilos é algo indescritível de tão gostoso, e até mesmo a areia, que no geral me incomoda horrores quando combinada ao calor escaldante, era agradável ao toque. E, embora haja a descoberta de um universo novo de percepções físicas, o aspecto mais marcante é, sem dúvida, o emocional. Porque aquele gesto simples, ridículo e que deveria ser tão orgânico é capaz de provocar uma ideia louca de liberdade.
Não, não é igual ao que acontece no Carnaval, por exemplo, quando os milhares de corpos nus se encontram sexualizados em um contexto assim construído. É outro papo. É experimentar a autonomia e o direito, é empunhar no próprio corpo um exemplo claro e prático de um desejo de uma humanidade mais igualitária e menos conservadora. Tirar a roupa na praia significou, para mim, ter no peito um mundo todo. Por 19 minutos, eu fui soberana, pelada e, sobretudo, feliz.