Porque não amamentei, eu era menos mãe que todo mundo
Fiquei sabendo que hoje é Dia da Amamentação, e procurei aqui uma foto minha para postar, dando o peito para meu filho. Não encontrei nenhuma. São milhares os registros de quando ele era um bebê – no meu colo, no colo dos outros, sorrindo, puto da vida de fralda suja -, mas, ainda assim, não há um único retrato do Teodoro mamando.
Não estou surpresa. A amamentação foi, para mim, uma das partes mais complicadas da maternidade. Durou apenas dois meses e meio, e sempre envolveu, fora um ou outro episódio isolado, muito sofrimento, dor e frustração. Não à toa, ninguém se ocupou em tirar fotografias. Até porque mãe que dá o peito e tem vontade de morrer, tudo ao mesmo tempo, chorando, não fica muito bonito no Instagram.
Já mencionei aqui neste espaço que, aos 15 anos de idade, fiz uma cirurgia de redução de mamas. A indicação ia além da estética: era preciso ajudar a corrigir minha postura e a dor nas costas, resultado de seios imensos para meu porte físico e minha idade. Com meio quilo de gordura a menos em cada mama, tive uma adolescência mais leve.
No entanto, o preço do conforto foi o risco de, quando e se decidisse ter filhos no futuro, enfrentar dificuldades para amamentar. Por conta do porte da operação, a incisão escolhida foi o chamado “T” invertido, no qual, entre outros cortes brutais, são removidos temporariamente os mamilos (para ser costurados de volta ao fim da cirurgia, obviamente, ufa). Neste processo, cortam-se também os dutos mamários, que não se recompõem facilmente.
Aos 28 anos, tive meu filho, e já no primeiro dia, ainda na maternidade, ficou claro que, embora a produção de leite fosse abundante, o fluxo de saída era desprezível. Eu tinha comida suficiente para alimentar um berçário inteiro, mas o canudinho pelo qual ela passava era da espessura de um fio de cabelo.
Saímos do hospital já carregando na bagagem uma lata de leite em pó, e um sentimento de fracasso absoluto. Eu era menos mãe que todo mundo. Chegando em casa, passada a prostração inicial e, entre as mamadeiras complementares, comecei a pesquisar e investir em métodos alternativos como a relactação, enquanto enfrentava, também, mamilos rachados e uma dor que me fazia chorar enquanto o neném sugava o leite.
Claramente não estava valendo a pena. Nem para mim, nem para meu filho, que só perdia peso e decerto também não encontrava prazer nenhum naqueles momentos que deveriam ser de, no mínimo, satisfação. A amamentação, para nós, nunca significou paz, conexão, magia e todas aquelas coisas lindas que os comerciais, revistas e redes sociais geralmente nos mostram.
E, depois de bastante tempo me considerando uma vítima do destino e um algoz da minha própria cria, decidi que era chegado o momento de entender que, assim como na vida como um todo, na maternidade também não há certo e errado, não há melhor ou pior, mas, sim, o que é mais adequado a cada caso. Podíamos até ser a exceção, mas encontraríamos, nesse nicho, a nossa felicidade.
Teodoro completa dez anos neste mês. É magrelo, porque assim o são seus pais, é saudável, e – quero acreditar – feliz. Teve todas as doenças típicas de infância, fez duas cirurgias eletivas, adora as aulas de Ciências e abomina as de Matemática. Tem um dos olhares mais transparentes do mundo, e, com ele, se conecta comigo em meio a multidões.
Não foram os dois meses de peito que o fizeram assim, tampouco os três anos de mamadeira. As decisões tomadas ao longo deste processo, como a de limpar a consciência de que ser diferente não é um problema, foi que o moldaram este garoto que ele é. Por isso, neste Dia da Amamentação, desejo que a gente possa comemorar não só o ato de dar o peito aos nossos filhos, mas, também, a possibilidade de nos emancipar e nos reconhecer como as mães maravilhosas que somos, sejam quais forem as circunstâncias. Parabéns para nós.