Eles não

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Marcella Franco

A gente já está cansada de saber que ele não, pelos motivos muitos que todo mundo conhece, mas, de tão focadas que estamos nisso, a gente acaba esquecendo que não é só ele que não – tem muitos, muitos outros que também não.

Aquele boy lindo que já nos primeiros encontros se refere à ex como “louca”, e que, quando você entrar para o rol das antigas relações, também vai chamar você de maluca: ele não. Bem como aquele cara maravilhoso que fala mal da mãe, da irmã, da chefe, justificando de algum modo que elas agem de maneira desequilibrada pelo fato de ser mulheres: ele, também, não.

Homem que é incrível com as minas com quem sai, que trata bem, que respeita, mas que tem filho de outro relacionamento e mal visita a criança ou não paga direito a pensão: ele não. Tampouco o moço que é um paizão nas redes sociais, mas, na vida real, não troca fralda nem vai à reunião da escola porque isso é tarefa da mãe: ele não.

Rapazes que fazem questão de receber sexo oral e que, quando é chegada a hora de botar a língua para funcionar, fazem cara de nojo: eles não. Nem os que até topam chupar, mas não fazem ideia de onde fica o clitóris: eles também não.

Aliás, na cama, há uma série de eles que, poxa vida, não mesmo. Mas destaquemos, para resumir, os que desconhecem o que respeito no sexo significa, seja porque só se preocupam com o próprio orgasmo, ou porque forçam situações com as quais a gente não concorda: eles não.

Por falar em respeitar alguém, talvez haja um tipo que a gente já esteja aprendendo que não – o boy abusivo. Se ele só coloca a parceira para baixo, se ele não valoriza o que ela é e faz, se ele tenta provar que ela é tão péssima que ninguém além dele vai querê-la e que ela tem sorte por ele ainda não ter ido embora de vez, lembre: ele não.

Homem que explica as coisas às mulheres como se elas fossem idiotas porque justamente são mulheres, sendo que elas já sabem do que eles estão falando: eles não. Homem que se apropria de ideias que originalmente foram dadas por uma mulher, e finge que foram criadas por ele: tão não, ele, gente.

Motorista sem cortesia que bota a cara para fora da janela do carro e diz que “só podia ser mulher” quando uma moça se enrola no trânsito: ele não. Nem os prestadores de serviço que aumentam o preço das coisas quando a freguesa é do sexo feminino: eles também não.

Lembremo-nos, portanto, de todos aqueles que de jeito nenhum, nunca, jamais, para sempre não, e mantenhamos sempre em mente como foi que isso tudo começou, onde e por que tudo isso surgiu, para que a gente não volte nunca mais a cogitar achar aceitável algo que, nunca é demais lembrar, absolutamente não. Eles todos: não.