Um bom motivo para assinar a Folha

Sabe quando você quer continuar lendo um texto como este, quando acha que vale a pena ultrapassar a marca dos dois parágrafos, e uma linha horizontal e muito malvada vai deixando as frases mais clarinhas até que chega o aviso para fazer login caso queira de fato prosseguir na leitura? Vai acontecer já já aqui embaixo, e com certeza não será a sua primeira vez.

Daí você reclama com quem compartilhou o link, escreve, puto, “é só para assinantes” no campo dos comentários no perfil do amigo. Pode ser, então, que alguém te mime e copie e cole o artigo aberto, ou pode, também, acontecer de sugerirem que você faça um rápido cadastro para ter acesso a algumas publicações mensais. Mas, e assinar o jornal propriamente dito, não é algo a se considerar?

A Folha de S.Paulo foi meu terceiro emprego na vida. Cheguei aqui quando tinha 19 anos e ainda estudava jornalismo na faculdade. Obviamente a época facilitava a eclosão da arrogância – trabalhar no principal veículo do país quando ainda se usa fraldas faz com que nenhum outro desejo pareça impossível.

Acho que dei conta de me controlar. Dentro do razoável, tentei não dar gritinhos excitados ao operar o maquinário local. Não pedi autógrafo quando, no primeiro dia, peguei carona no mesmo elevador que o Otavio. Tampouco me permiti deslumbrar quando meu nome apareceu pela primeira vez em uma página da Ilustrada, até porque a ombudsman, que também era minha professora na universidade, achou o texto uma bosta e digno de uma análise em particular.

Tenho hoje 38 anos, e esta é minha segunda passagem pela Folha, depois de quase 20 anos circulando por jornais, revistas e agências. Posso dizer que não há, no Brasil todo, outro lugar que eu ame tanto trabalhar quando este aqui. É certo que, com este comentário, eu tentasse convencer – e provavelmente conseguisse – minha mãe a pagar por uma assinatura.

Todavia, como meu foco desta vez é você, que, de algum modo, ultrapassou a linha dos dois parágrafos, e conseguiu chegar até aqui para me ler, posso dar alguns outros motivos a fim de lhe persuadir. Posso lembrar o quanto eu adorava a moça que pacientemente transcrevia nossas entrevistas da fita cassete para o computador, ou a folclórica omelete de batatas fritas servida no saudoso restaurante ao lado da redação.

Ou talvez possa não apelar tão descaradamente para a memorabilia, e focar nos benefícios de se viver bem informado, de poder debater com propriedade as notícias do dia, portando mais argumentos do que apenas aqueles que aparecem no lide. Não parece sedutora a imagem de uma tela no celular que se abre sem que seja preciso digitar identificação nenhuma para prosseguir?

Eu poderia citar também que, aqui, trabalham as melhores pessoas, mas você acharia que minha opinião é tendenciosa. Outra opção seria mencionar o belíssimo chão de pedras portuguesas na entrada do prédio, mas vai que você não se liga em arquitetura. Então, encerro meu apelo com um argumento que, cativante, talvez produza algum efeito.

Assine a Folha, amigo, se curte uma imprensa livre, e se a palavra “democracia” ainda tem algum apelo sobre você.