Seis conselhos para a felicidade

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Marcella Franco

Em tempos de desengano com gurus demasiado humanos, é importante que se diga que quem sou eu para vir aqui despejar conselhos na timeline de alguém – jornalista nem é gente. Ainda assim, acredito que sobreviver semi-intacta por 38 anos (poucos órgãos perdidos, moderado dinheiro na conta, abundante savoir-faire no lombo) me coloca em uma posição privilegiada enquanto ser humano. Posso não ter relevância, mas alguma coisa de mundo eu entendo.

Desde que me tornei mãe, mais de uma década atrás, espero diariamente uma pergunta que nunca veio. Já fui encurralada para explicar a função das camisinhas, para versar sobre a existência de Deus e o que acontece depois que o coração para de bater, mas, até agora, ainda não precisei responder àquela que considero a questão mais difícil de todas: como, afinal, mãe, a gente pode ser feliz na vida?

Óbvio que já ensaiei todo o invólucro da argumentação. Eu diria, antes de qualquer coisa, que felicidade, filho, é um conceito superestimado pela humanidade, e que ninguém consegue ser pleno o tempo inteiro, e que, veja só que edificante, o sofrimento tem lá sua função na existência. Mas, sejamos francos, que bela bosta de resposta pode surgir de uma abertura deste nível? Se não posso evitar ser evasiva, é certo que a felicidade também tem direito à dissimulação.

E assim surgiu uma lista. Com seis itens. Que pode tanto ser lida e ignorada, como é próprio de todas as listas, como também salva nos favoritos, andar impressa na carteira, virar quadro decorativo para a cozinha, enfim, é tão despretensiosa quanto adaptável. Não espero que seja empregue, tampouco repassada adiante. Tem o propósito único de, estando você em apuros diante da questão mais difícil da raça humana, haja à mão uma saída.

1) Você não tem controle sobre nada. Desista o quanto antes de querer ter.

Um indivíduo médio leva cerca de três décadas para compreender que não tem o poder de regular o que acontece ao seu redor. Estou aqui para encurtar este prazo. Aceite o mais cedo possível que todos os fatos da vida transcorrem à parte qualquer anseio, oração ou praga que se empregue sobre eles. Não controlamos o comportamento dos outros, a opinião deles sobre nós, não controlamos amores, desejos, tempos. Somos sujeitos de um destino, e abraçá-lo, aprendendo com ele, torna a viagem menos turbulenta.

2) Lave a louça suja sempre que acabar de usá-la.

Zero espiritualidade e misticismo, apenas um conselho para a vida prática. Jamais permita que sua louça se acumule na pia, formando pilhas desanimadoras de gordura, colheres de pau e arroz velho no ralinho. Resolva imediatamente após a refeição, de maneira a economizar tempo e bom-humor.

3) Seus pais eram pessoas como você antes do seu nascimento. Esforce-se para enxergá-los assim.

Parece óbvio, mas o pai e a mãe da gente tinham uma vida antes de virar o pai e a mãe da gente. Eles eram, muito provavelmente, pelo que o curso natural indica, adultos jovens com sonhos, rotinas, interesses e talentos. Possivelmente gostavam de se divertir com amigos, de fazer sexo, beber cerveja, assistir TV. E, quando tiveram o primeiro filho – que, se não é você, é uma irmã ou irmão seu -, não tinham a mais vaga ideia de como proceder, de modo que o que tentaram foi no mais puro chute e mirando na mais alta sorte. Compreenda-os. Veja-os. Antes que seja tarde demais.

4) Por falar em filhos: se for ter os seus, escolha fazê-los com alguém de quem você possa ser amigo pela vida inteira.

Amor romântico e casamento acabam. Esposas e maridos são títulos temporários, enquanto pai ou mãe do seu filho, não. Se desejar realmente ter uma família, construa-a com uma pessoa com quem você tenha não necessariamente o desejo, mas, sim, a habilidade de conviver para sempre. Ser amigo de quem divide com você a criação de um ser humano deveria ser obrigatório, já que o clichê de que ninguém pede para nascer é a mais pura verdade.

5) Jamais cancele um compromisso que assumiu com amigos ou namorados por preguiça de sair de casa.

Se combinou de sair com alguém com quem você se importa, não desmarque por nada menos que uma parada cardíaca ou enchente no bairro. O sofá pode parecer tentador na meia hora que antecede a saída de casa, mas o benefício de cumprir com o acordado e desfrutar de momentos de alegria ao lado de pessoas caras é impagável e dá sentido à vida.

6) Não ofereça aos outros menos do que você pode dar.

Ao longo da vida, os encontros com pessoas que nos dão menos do que acreditamos merecer serão mais comuns do que aqueles com quem a troca parece equilibrada: menos amor, menos respeito, menos dedicação. Isso, no entanto, não é justificativa para que você deixe de ser fonte de virtudes para os outros. Pode soar injusto e piegas, mas o tempo vai provar a validade de se sustentar um caráter inabalável. Espalhe o que você tem, e não o que você recebe.