Tá vendo só o que você fez? Com essa sua bad vibe, esse nariz torto, você viu só o que aconteceu? Ou vai fingir que não sabe que a responsabilidade é toda sua por esse climão político do país? Não adianta fugir, não – tá bem na cara que foi logo depois que começou a sua torcida contra que a coisa passou inteira a dar errado. Até então, antes de vocês agourarem geral, andava tudo super nos conformes.

Os ministérios corriam felizes e funcionais. Patrulhando a palheta de cores da vida alheia, bem como a literal retidão do planeta Terra, ainda cuidavam de nos entreter com lúdicos contos sobre Jesus em visita extraordinária aos pomares brasileiros. Não estava tudo ótimo? Por que é que vocês tinham que mexer?

Vivíamos um lindo momento de revisão de pontos fundamentais de nossa sociedade. A abertura para livros que ensinem o que quiserem sem a velha exigência burocrática de bibliografia, o tão aguardado acesso do cidadão de bem às armas de fogo. O que mais vocês poderiam querer, gente?

Era uma nova era. E vocês destruíram tudo.

Tínhamos um presidente antenado com as maiores tendências do mundo, que se comunicava fluidamente via tweets na madrugada, sem nunca mais precisar do trabalho dos tradicionais jornais e sua antiquada maneira de anunciar as coisas na mídia.

Ele, tão justo, batia boca – apenas quando muito necessário, obviamente – com eleitores decepcionados e opositores com sede de justiça. Escrevia discursos com mais que suficientes 16 minutos de duração, até porque quem é que tem paciência para muito mais do que isso. Então, caramba, não estava tudo bom demais para ser verdade?

E, aliás, falando em verdade, quando tudo começou a parecer uma grande mentira de motoristas justificando milhões com a venda de carros usados (eu mesma negociei meu Corsa 98 pelo preço de um apartamento duplex em Ipanema, caguei para quem duvidar), veio de novo o alto astral desse pessoal novo para deixar tudo mais leve e plausível.

Soro na veia e órgãos internos removidos na véspera, quimioterapia agendada para breve, amuamento e incompreensão absolutos, acrescidos de acusações injustas de desvios inomináveis nas manchetes, e, ainda assim, nosso bravo guerreiro careca não se abateu. Seguiu dançando mesmo internado, com passos de axé que driblaram todas as intuições escrotas de vocês para cima dele. Vade retro, seus nefastos.

Ao fim disso tudo, ufa, ainda que em meio a todos os maus agouros que vocês emanaram, o governo ainda respira esperança. Só precisa mesmo que se deixe trabalhar em paz a fiel torcida militante do WhatsApp, que se pare de encher o saco sobre questões claramente de pai e filho, e, sobretudo, que se acendam incensos ao invés de fogueiras para deixar fluir as vibrações boas.

Suspendam as vaias e façam bicos apenas para mandar beijinho. Se não for pra mandar good vibes, melhor nem vir.