Poema do amor voraz
Os males do amor,
muitos e variados,
desde o tipo rejeitado até
o iludido,
encobrem aquele que, de todos,
é o mais doído –
porque à vítima impõe
da miséria a pungente angústia -,
ficando omitido,
até que, abatido
um novo amante, lembra-se,
a humanidade,
da força de tal moléstia.
Quando o sentir não basta
(ainda que farto)
porque no peito sobra espaço,
não chegam beijos
nem evidências,
não faz diferença
a constância.
Reluz só
a carência,
brilham os vãos, e grita
a fome:
é o amor voraz, quando o desejo
nunca chega, e faz querer
tatuar seu nome
do seu inteiro tirar um pedaço,
arrancar-te e mordiscar um dedo,
para, depois, dependurado,
exibi-lo numa corrente.
Esganado o peito em vazio frequente
sonhar em, com a língua,
te esfolar, inteiro,
e fazer da pele toda goma
de mascar.
Teu cheiro:
num frasco ao alcance
da mão, no bolso,
chuviscado no pulso, romance
em gotas de suor azedo.
O que te há de belo,
o que te sobra, impuro.
Não tem critério o amor voraz,
porque anseia seus excertos
duros
inseridos no meu contexto.
Será que é um filho
que, teu, cresça
me ocupando,
ou só mesmo
sua carne, inchada,
me recheando?
Engolir você: a meta.