A melhor estratégia

Quando adiantou detalhes da política de educação sexual para adolescentes, pregando sua abstinência, o Ministério dos Direitos Humanos tinha ciência do vespeiro em que enfiava a língua. Ao lado de dezenas de colegas jornalistas, fiz parte do pelotão que fuzilou com argumentos, piadas e dados científicos a estratégia destinada ao fracasso. E quem sabe fosse justamente isso que Damares Alves queria, seguindo a máxima do falem mal, mas falem de mim.

Se estava realmente só de olho na fuzarca, excelente, temos enfim um ministério eficaz no governo. Mas, se a ideia era, a sério, provocar e convencer jovens a não transar até ter idade para a carteira de motorista, aí não havia plano mais furado – nenhuma careta de ministra jamais deu e jamais dará conta de acabar com a libido de meninas e meninos de 16 anos.

Agora, se o governo desejasse realmente investir na educação sexual dos adolescentes, haveria, além das conversas francas com professores e dos livros, uma alternativa eficaz e relativamente barata: jogar na cara a mais dura realidade que possa haver. O que, no caso de proteger de uma gravidez indesejada, significa expor a vida de uma mãe solo às meninas.

O feminismo evoluiu, verdade, e vimos lentamente abrindo os olhos para conceitos ancestrais que não nos são de mais qualquer serventia, mas a maternidade, infelizmente, ainda é um tópico dos mais romantizados, seja na adolescência ou na vida adulta das mulheres.

Paira muitas vezes, no fundo da mente de algumas de nós, a ideia de que ser mãe é algo mágico, e que, como repetem as tias e avós, uma criança é sempre uma bênção. Mentira.

Se, mesmo quando planejado, um filho pode bagunçar os planos de vida, o que dizer de uma gestação-surpresa, especialmente na juventude? E, pior, como fica se essa gestação acontece na juventude de uma garota que não vai receber qualquer apoio do companheiro que – é sempre bom lembrar – é tão responsável pela criança quanto ela?

O Ministério deveria nos levar, nós, as mães solo, às escolas de todo o país, e nos presentear com uma hora de palestra diante de salas de aula lotadas com garotas que ainda podem fazer boas escolhas. Nos sentaríamos de costas para a lousa, e provaríamos, por A mais B, que ficar sem sexo na juventude é realmente uma ideia ridícula, mas que sexo responsável é o que de mais acertado elas podem fazer na vida.

Falaríamos, claro, sobre a perda da liberdade e do sono intrínsecas à maternidade em qualquer idade, mas focaríamos principalmente na parte da batalha em que a vida de uma mãe solo pode se transformar para conseguir participação ativa, afetiva e financeira do pai da criança. Afinal, se marmanjos de 30 anos praticam o aborto masculino diariamente, por que meninos de 15 não o fariam?

Daríamos às alunas nossos próprios exemplos. Falaríamos de negligência, abandono, duelos jurídicos, desrespeito. E sobre como a justiça – aquela que muitos apreciam alardear ser sempre partidária da mulher – muito pouco nos protege ou auxilia, nos transformando em grandes guerreiras exaustas, quando tudo que a gente queria era dedicar nosso peito e energia ao amor pelos filhos e sua criação.

Com exemplos concretos, ministra, nós mudaríamos o futuro. Porque as meninas não têm que parar de ir para a cama – elas têm é que ser ensinadas a fazer isso direito.